Opinião | Botaram a genitália na mesa: o poder da gritaria e mentira na estratégia do voto

Foto: reprodução

O que é mais sexy em um discurso eleitoral: A verdade, nua e crua, dura, e muitas vezes frustrante, ou o acúmulo de bobagens safadas, a mentira tosca, mão na bunda e gritaria? A política sempre foi um terreno fértil para a retórica, a persuasão e a manipulação das massas, tipo um strip-tease com nude de genitália no final. Vai dançando, o clima esquenta, o interesse aumenta e a bobagem segue rolando até o grande ato de encerramento. Nos últimos pleitos, porém, os holofotes acenderam outras coisas, comportamentos e ideias na sociedade que causam vergonha, tristeza, horror.

Ao longo dos anos, testemunhamos diversos políticos utilizando expressões chocantes e promessas grandiosas para ganhar destaque e, consequentemente, votos. A internet chegou e potencializou tudo. A questão que se coloca é: será que essa estratégia continuará a funcionar?

Imersos em um mundo cada vez mais conectado e informados, a lógica seria deduzir que estaríamos todos menos suscetíveis a táticas políticas ultrajantes. Mas, não é exatamente assim que a experiência vai se provando. Natural para um país que beijo na boca e fidelidade são comprados em um quarto de bordel. O eleitorado está cada vez mais crente em promessas vazias e às palavras incendiárias, buscando por políticos que possuem o oposto de características com capacidade de apresentar propostas concretas e sustentáveis.

A gritaria e o uso de expressões chocantes têm um apelo poderoso para uma parcela da população que busca líderes que expressam suas frustrações e ressentimentos. A sensação de indignação, muitas vezes alimentada pela ignorância política, leva muitas pessoas a se sentirem mais próximas dos candidatos que “falam a sua língua”. Não entrando em miudezas da psicologia humana, a ciência já provou que nossas emoções se manifestam com mais força quando diante de horrores, tragédias, repulsa e ódio. Assim, a forma, a intenção agressiva e promessas extravagantes cumprem este papel de capitalizar sobre o descontentamento popular.

Nesta semana, por exemplo, um vereador suplente de Blumenau, buscando acenar para um nicho eleitoral e conquistar um espaço na opinião pública, destilou ódio nos microfones da Câmara. O falecido governador Luiz Henrique disse uma vez que “o vazio de governo cria o vazio de Congresso, que cria o vazio nacional e espalha a desgraça, o desalento”. Eu acrescento que o vazio, a falta de capacidade para ganhar espaço no campo das ideias, arrasta a dignidade do político para o esgoto.

Além de ética e moralmente questionáveis, a prática destas estratégias políticas extremistas carregam uma série de riscos para o homem público, para sociedade e democracia. O uso indiscriminado de expressões chocantes, mentiras e crimes eleitorais para conquistar votos esgarça o tecido social e mina a confiança no sistema democrático como um todo. Quando líderes políticos distorcem deliberadamente a verdade, entregam para população a desconfiança nas instituições e corroem as estruturas de Estado.

Um exemplo emblemático desse fenômeno é a situação de Jair Bolsonaro, cujos direitos políticos foram cassados. Bolsonaro, durante seu mandato, ficou conhecido por suas declarações discutidas e provocativas, muitas vezes recheadas em informações falsas. Embora tenha conquistado uma base sólida de apoiadores, a falta de veracidade em suas palavras e as consequências negativas de suas ações levaram, até aqui, a um desgaste crescente de sua imagem, uma lista de possíveis crimes penais e uma condenação por crime eleitoral.

A cassação dos direitos políticos de Bolsonaro é um alerta para a sociedade brasileira. Reflete a importância do eleitor ampliar o rigor, exigir e ser capaz de discernir entre a retórica vazia e os verdadeiros líderes comprometidos com o bem comum. E, aos poderes constituídos da república, está a missão de não permitir que o uso indiscriminado de expressões chocantes e mentiras torne-se a norma na política.

Os veículos de impressa tradicionais, a mídia independente e plataformas de redes sociais possuem um papel fundamental. É necessário comprometimento com a veracidade dos fatos, buscando responsabilizar e desmascarar produtores de mentiras e as distorções.

Em última análise, a questão de saber se a gritaria, o horror e a mentira como estratégia eleitoral continuarão a funcionar depende de nós, cidadãos conscientes. Somos nós que moldamos o futuro político de nossa nação, e temos a responsabilidade de não permitir que as táticas vazias prevaleçam sobre a verdade e a integridade. A política deve ser um espaço para o debate saudável e o diálogo construtivo, e cabe a nós garantir que assim seja, e não um prostíbulo de quinta categoria.

Tarciso Souza, jornalista e empresário.

1 Comentário

  1. Parabéns sr.Tarciso Souza. O sr. representa positivamente tudo que precisamos para que a paz retorne entre todos os cidadãos do nosso país, respeitando todas as instituições constituídas e mais que nos respeitamos.

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*