Vivemos o auge da vergonha institucional: a pior Câmara dos Deputados da história recente. Não pela quantidade de escândalos sempre abundantes mas pela naturalidade com que deputados e deputadas transformaram seus mandatos em abrigo, escudo, esconderijo, palco pessoal e, claro, fonte inesgotável de dinheiro público. O povo assiste de forma passiva, como se fosse normal viver num país onde parlamentar condenado foge para outro país e continua pesando na folha de pagamento da nossa democracia capenga.
O caso mais gritante é o de Alexandre Ramagem (PL-RJ). Condenado a 16 anos e 1 mês por envolvimento em esquema golpista, fugiu para os Estados Unidos e, mesmo assim, teve gabinete funcionando e despesas mantidas pela Câmara. Só este ano, mais de R$ 335 mil já foram pagos enquanto ele curtia a vida foragido.
Carla Zambelli (PL-SP), condenada a 10 anos de prisão por invadir sistemas judiciais, também deixou o país. Também está foragida. E também teve, durante meses, gabinete ativo e pago com dinheiro do contribuinte.
Eduardo Bolsonaro (PL-SP) não está condenado, mas deu seu próprio “jeitinho”: vive nos Estados Unidos desde março de 2025, raramente aparece, acumula faltas e segue com gabinete ativo. No mês de outubro de 2025, os custos dos três Ramagem, Zambelli e Eduardo Bolsonaro somaram cerca de R$ 420 mil.
E qual é a consequência disso? Nenhuma. A Câmara hesita, adia, empurra, trata condenação como detalhe e fuga como imprevisto. O mandato de Ramagem deve ser declarado vago após decisão de Alexandre de Moraes ordenar a perda do cargo. Fonte: Hora do Povo. Mas, ainda assim, a pergunta incômoda permanece: quem vai ocupar o cargo pelos próximos quatro anos? Quem é esse suplente? O que defende? Para que servirá?
Nos bastidores de Brasília, o problema estrutura-se de forma mais ampla. Parte do Congresso com apoio de uma bancada poderosa aposta tudo para enfraquecer a Polícia Federal (PF) como instrumento de investigação nacional. Alterações no recente PL Antifacção ,aprovadas pela Câmara sob a relatoria de Guilherme Derrite representam um risco real a esse enfraquecimento: mudança nas competências, limitação da atuação conjunta com polícias estaduais, controle político sobre investigações e restrição de recursos da PF. A corporação própria já classificou as mudanças como “grave retrocesso” no combate ao crime organizado. Se as forças que poderiam investigar corruptos e milicianos forem sucessivamente fragilizadas, a blindagem da impunidade se consolida por dentro com nossos impostos comprando o silêncio funcional de quem deveria investigar.
Essa deveria ser a conversa central do eleitorado: quem são essas pessoas que entram na Câmara e como usarão o mandato pelos próximos quatro anos? Mas, em vez disso, o país está anestesiado. Aprendeu a conviver com o absurdo. Aceitou a ideia de que político condenado, foragido ou ausente pode continuar vivendo às custas da máquina pública enquanto empurra o Brasil para o buraco.
E é justamente essa passividade que pavimenta o caminho para algo ainda pior. Se nada mudar, a próxima legislatura será ainda mais tóxica, mais cara, mais distante da população e mais próxima de interesses privados, identitários e grupistas. Se o eleitor não começar a buscar informação sobre quem são esses candidatos, o que defendem e a quem servem, teremos mais quatro anos de escudo parlamentar usado como muralha contra a Justiça e como caixa eletrônico permanente.
No fim das contas, a maior tragédia não são os escândalos: é o fato de o país ter se acostumado com eles. O que nos resta é escolher entre continuar fingindo que não é com a gente ou, finalmente, exigir uma política que sirva ao povo e não aos fugitivos do próprio mandato.
Marco Antônio André, advogado e ativista de Direitos Humanos





Temos uma pessoa condenada em 3 instâncias com mais de 50 delações premiadas , com provas e mais provas contra esta pessoa que agora é presidente da república e vários da mesma quadrilha que foram presos e agora estão soltos .
A balança da esquerda tem dois pesos e duas medidas, se é do meu lado não é bandido , mesmo com provas , mas se é de direita , mesmo sem provas é bandido .