Opinião | a última do Sabiá Aroldo Bernhardt

Foto: reprodução

Nesta sexta-feira nos despedimos do Aroldo Bernhardt, que nos deixou de forma surpreendente. Um pouco antes de partir estava nos grupos de Zap da vida e de repente não estava mais.

Um sopro, assim se foi, assim é a vida.

O conheci nos anos 2000, quando secretário de Administração da Prefeitura, Mas foi como colaborador voluntário do Informe Blumenau que entendi mais a dimensão do Aroldo, o intelectual, o pensador, mas principalmente o cronista brincalhão, que nunca perdia o senso crítico.

Foram mais de 50 textos escritos para o Informe. Pesquisei alguns para compartilhar neste post e confesso que foi difícil, pois cada um tem uma sacada própria. De lirismo e análise crítica, obviamente passando pelas suas posições políticas.

O que compartilho hoje foi publicado em janeiro de 2019 e a cada dia que passa é mais central. Tem como titulo, “Ideologia em Foco”.

Sempre atual o Aroldo.

Há um recrudescimento conservador que rotula o pensamento e as atitudes da chamada esquerda como ideológicos, fato que me levou a escrever sobre o tema.

Consta que foi Marx quem usou o termo pela primeira vez, quando identificou a sociedade dividida em blocos opositores – a burguesia e o proletariado. Para ele a palavra ideologia significava uma explicação errada, intencionalmente falsa acerca de determinados fatos. Marx evidentemente se referia a argumentação burguesa usada para justificar a opressão sobre o proletariado.

Com o tempo a ideologia foi sendo modificada e passou a representar um conjunto específico de valores, uma visão de mundo comum a um grupo de indivíduos (e nunca de um só indivíduo) e assim transcendente à política, influenciando todas as dimensões da vida. A ideologia passou a ser encarada como determinante para a forma de se relacionar com os objetos, com as pessoas e com a natureza e, nessa perspectiva, por sermos aderentes a uma determinada visão de mundo, a ideologia nunca vai nos deixar.

Em outras palavras, nós não vemos as coisas como elas são, somos “viciados” na percepção que temos da realidade. Negar tal situação é desconhecer a importância do processo de socialização que vivenciamos na infância, na escola, no trabalho, na sociedade.

Até mesmo a ciência e os cientistas, apesar de gozarem de grande prestígio não são imunes ao viés ideológico. Embora ainda prepondere a ideia de que a ciência é feita em termos objetivos e não de simples opinião, os cientistas não são tão isentos com alguns creem. Acontece que persiste a chamada distorção iluminista, na qual o cientista se julga acima das pessoas porque se sente “iluminado” pela razão. O fato é que, quando o cientista estabelece as hipóteses, a metodologia e os demais parâmetros que vão nortear a sua pesquisa, ele está colocando a sua visão de mundo (a sua ideologia) em ação.

Em suma, ao menos na dimensão da política, os governos populares percebem a realidade sob a ótica dos pobres e os governos conservadores (conservadores porque lutam pelo “establischment” entendem que pagam impostos demais e daí querem a meritocracia (conceder mais a quem tem mais competência, preparo ou poder). Daí que, por exemplo, pobre sequer deveria votar.

Por outro lado, os “esquerdistas” entendem que seus adversários só pensam nos mais ricos. Daí que, por exemplo, alguns acham que todo empresário é um explorador. Esse debate é político e como tal precisa ser exercido, porém os agentes devem antagonizar o pensamento que lhes é contrário e não combater o pensador, senão vira ódio, preconceito e isso só “emburrece”.

Enfim a verdade supera a capacidade humana em apreendê-la e, portanto, quando alguém afirma que outrem é ideólogo já denunciou a sua ideologia

2 Comentário

  1. Acompanho, há vários anos as escritas do Sr. Aroldo Bernhardt e algmas vezes retruquei nesse local, não concordando com algumas colocações.
    Mas agora acabou. Saudades.
    Almejo que encontre a paz.

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