Opinião | A alternativa solar

Foto: divulgação

Todos os dias o sol fornece uma enorme quantidade de energia que basicamente é usada pelos produtores biológicos (plantas e algas, principalmente) para gerar alimentos, pela fotossíntese. Os cientistas estimam que apenas cerca de 2% da energia solar que chega à Terra todos os dias é suficiente, em média, para a fotossíntese nos níveis atuais. Isso significa que a energia que sobra é enorme. Paradoxalmente, ao contrário do que a natureza nos ensina, 98% de toda a demanda energética mundial para as necessidades humanas é produzida artificialmente, por formas extremamente poluidoras (principalmente carvão, petróleo e gás). Assim como para a fotossíntese, a energia solar seria enormemente superavitária se fosse mais (bem mais) usada pela economia. Calcula-se que a energia solar absorvida pela Terra em um ano seja o equivalente a 20 vezes a energia armazenada em todas as reservas de combustíveis fósseis no mundo e dez mil vezes superior ao consumo atual pela humanidade. E aqui se fala em todas as atividades, produção industrial e agropecuária, transportes, energia elétrica etc. Ainda é caro e talvez pouco interessante economicamente, utilizar a energia solar para produzir calor ou eletricidade, mas parece pouco inteligente continuarmos a queimar as fontes de carbono estabilizadas e lançar poluentes e gás carbônico na atmosfera.

Muitos países já perceberam e investem na utilização da energia solar para produzirem energia elétrica, embora a participação desta fonte natural ainda seja muito pequena. Em termos mundiais a produção fotovoltaica não alcança os 3%, mas no Brasil a situação é pior ainda, com apenas 0,02% de contribuição na matriz energética. Temos evoluído um pouco nas gerações eólicas (vento), que já se aproximam de 4%, e vale lembrar que esta fonte também é solar, indiretamente, pois o vento é gerado por diferenças de temperatura na atmosfera, em função do aquecimento da mesma pelo sol. Mas por aqui predomina a geração por hidrelétricas, que é considerada limpa, embora cause sérios danos ecológicos. Os países que mais avançaram na produção fotovoltaica nos dois últimos anos foram os asiáticos, notadamente China, Japão e Índia, mas o ranking ainda tem os EUA, a Alemanha, a Itália e a Austrália à frente do Brasil, que ocupa hoje o 10° lugar. Todos estes países, à exceção do Brasil, têm mais de ¼ da sua produção total oriunda de fonte solar. Plantas fotovoltaicas enormes têm sido construídas em países bem menos “solares” que o nosso, como a Solar Star, na Califórnia (EUA), a Ashalim em Israel e a Indiana Charankana, além da Normandia na França e de Saragoza na Espanha, que são exemplos mundiais importantes. A expectativa é que o Brasil acorde para o potencial que tem, pois somos o maior país tropical, com alta incidência solar o ano todo e em toda a parte, à medida que as demais fontes forem se esgotando ou tornando-se caras demais.

É esta mesma energia solar, entretanto, que produz naturalmente o chamado efeito estufa, com a colaboração da atmosfera principalmente, que garante que a temperatura média no planeta seja confortável para a nossa existência. Mas também é ela que potencializamos pelo aumento dos gases poluidores atmosféricos e que tem trazido tanta instabilidade climática para o mundo todo. Em outras palavras, acrescentamos energia solar onde não deveríamos e não onde deveríamos.

Mas há notícias boas, também. Cem por cento da energia consumida no mundo pode ser proveniente de fontes renováveis até 2050 e os custos desse sistema energético podem ser mais baratos do que combustíveis fósseis em dez anos, além de serem muito mais limpas. Foi o que apontou um estudo divulgado pela Rede de Energias Renováveis para o Século 21 (REN21) em parceria com a ONU Meio Ambiente (ex-PNUMA). Atualmente, somente cerca de 20% da energia utilizada em todo o mundo é derivada de fontes renováveis. “O relatório pretende estimular a discussão e o debate sobre as oportunidades e os desafios de alcançar um futuro de energia renovável de 100% até meados do século”, disse a secretária-executiva da REN21, Christine Lins. “O pensamento positivo não nos levará até lá. Apenas compreendendo os desafios e se engajando em um debate informado sobre como superá-los, os governos poderão adotar políticas e incentivos financeiros adequados para acelerar o ritmo de implementação desse tipo de energia”, acrescentou. Porém, tão importante quanto a ação governamental são as atitudes dos consumidores, que precisam estar atentos e prontos para este novo tempo, em que também a cobrança sobre as empresas e governos, associada à economia de energia, serão necessárias.

José Sommer, professor, biólogo e educador ambiental

2 Comentário

  1. Todos deveriam ter acesso a este texto, mas quantos se interessam em uma leitura assim?
    Parabéns, José Sommer!
    Um dia o homem acordara! Não será tarde?

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*