Narrativa e realidade

Se tem uma palavra que entrou em moda de uns quatro anos para cá é narrativa. Ela sintetiza o objetivo inicial da CPMI dos atos golpistas de 8 de janeiro, pela oposição, e agora, depois de uma situação ainda mal explicada pelo Governo, da base governista.

Aprendi como jornalista a tentar ouvir o máximo de lados – narrativas? – possíveis sobre um determinado acontecimento, mas os fatos são construídos através de dados concretos. É a partir desta premissa que busco analisar o contexto que gera esta CPMI, que virou “unanimidade” entre governo e oposição.

As imagens divulgadas pela CNN são graves, porque estavam sobre sigilo. Esta clara a leniência do agora ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Gonçalves Dias, um general da reserva e amigo do presidente Lula, uma escolha pessoal. Precisa-se saber os motivos que levaram ele a ter esta postura.

Mas, o principal é saber se o presidente Lula e a cúpula do Governo sabiam destas imagens e mais, se Gonçalves Dias relatou ao presidente, de forma fidedigna, seu trabalho naquele triste 8 de janeiro.

Esta resposta é decisiva para tentar dimensionar se a responsabilidade é do Governo ou do GSI, o gabinete de segurança institucional.

A decisão de colocar sigilo nas imagens vazadas agora foi do presidente, do Governo ou do GSI? Tem ainda algum trecho que seja mais comprometedor? Em breve saberemos, pois o STF determinou o fim do sigilo para estas imagens e ouviu Gonçalves Dias nesta sexta-feira, feriado.

Estas respostas são importantes para dimensionar uma parte do que aconteceu naquele domingo de janeiro, mas é mais um recorte de tantas informações.

Não é a principal, e aí entra o que convencionou se chamar de narrativa, que a oposição tenta passar para inverter o entendimento sobre um dos atos mais tristes da história recente do Brasil.

A informação é. Houve uma organização de pessoas para participar de um ato que culminou com um ataque aos prédios dos Três Poderes da República, Supremo, Congresso Nacional e Palácio do Alvorada, este ultimo único alvo do debate gerado pelas imagens vazadas.

Houve uma organização de grupos, que financiaram o transporte e logística para levar as pessoas em Brasília. É fato. Blumenau sabe bem disso. Um empresário amigo do ex-presidente Jair Bolsonaro e um pastor tiveram participação ativa para transportar manifestantes.

Quem invadiu prédio público – podia ser privado também -, com aquele vandalismo todo, precisa ser responsabilizado. É no mínimo cumplice, viu que estava errado e foi. Não dá para passar pano.

E toda esta movimentação aconteceu por conta da postura de um grupo, que não aceitou o resultado das urnas em 2022. Lula ganhou, Bolsonaro perdeu.

Numa eleição legítima. É importante dizer, pois esta foi outra narrativa criada para criar, entre os cegos seguidores, uma cortina de fumaça sobre situações consolidadas e que merecem nosso sentimento de orgulho.

Voltando aos atos de Brasília. Pessoas que eram contrárias ao resultado democrático das urnas, uma minoria extremista, assumiram os riscos. E, em movimentos organizados, invadiram os espaços públicos.

Outro fato importante é a segurança pública. A responsabilidade pelo monitoramento e eventual repressão era do governo do Distrito Federal, com sua polícia militar, O secretário de segurança, Anderson Torres, ex-ministro de Bolsonaro, está preso, suspeito de afrouxar as equipes no final de semana.

A polícia do Senado foi a única que conseguiu fazer uma certa frente aos manifestantes, naquele momento já transformados em criminosos pela brutalidade e quebradeira.  No Supremo e no Palácio da Alvorada praticamente não houve resistência.

Estes são os fatos, outros podem aparecer ali na frente.

Mas sem narrativa, os fatos.

Um grupo de pessoas foi protestar contra o resultados das eleições. Este grupo invadiu prédios públicos, depredando o patrimônio, por conta da inconformidade com o resultado da eleição. Todos, apoiadores do ex-presidente Bolsonaro.

Houve uma falha – negligência? deliberada? – da segurança do Distrito Federal, comandada por uma das pessoas mais próximas de Bolsonaro. No final de semana que acontece o ato, o secretário de segurança Anderson Torres estava de folga, nos Estados Unidos, onde o ex-presidente passou uma temporada no começo deste ano.

O Governo precisa explicar a atuação do GSI. na invasão ao Palácio do Alvorada e responder as perguntas do começo deste texto. É uma parte importante, mas não representa o contexto.

O contexto é saber quem financiou e organizou os ataques a Democracia praticados no dia 8 de janeiro. E puni-los.

O resto é narrativa. Não dá para cair nesta.

 

 

 

 

 

1 Comentário

  1. O contexto é saber quem financiou e organizou os ataques a Democracia praticados no dia 8 de janeiro. E puni-los.

    Caro Alexandre , todos sabem a resposta, as imagens falam por si .

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*