Mapeamento de áreas de risco são lições de SC na prevenção de desastres

O mapeamento de áreas de risco e a organização da Defesa Civil são ações que o estado catarinense tem aplicado na prevenção de desastres, conforme especialistas que conversaram com o g1. Para o geólogo e professor da Universidade Regional de Blumenau (Furb) Juarês José Aumond, Santa Catarina começou a se mobilizar mais nessa questão após a tragédia de 2008.

No final daquele ano, a região do Vale do Itajaí registrou diversos deslizamentos. Foram três meses com chuva forte e várias vezes fraca, mas suficientes pra deixar o solo encharcado. Foram afetadas 60 cidades e atingidas 1,5 milhão de pessoas. Dessas, 9.390 ficaram desalojadas. Houve 135 mortes.

“Foi um marco na história de Santa Catarina. Até então, não tínhamos notícias de desastres com perdas humanas e econômicas. A partir de 2008 é que começou a acontecer todos os anos”, afirmou o professor.

Ele citou também como exemplo a enxurrada e os deslizamentos que ocorreram em Presidente Getúlio, também no Vale do Itajaí, no final de 2020. Os 120 milímetros de chuva que caíram na região em seis horas deixaram 18 mortos na cidade, além de 147 desabrigados. Outras três vítimas morreram na região. Na parte da estrutura, casas caíram e ruas desapareceram.

“Os relevos montanhosos em Santa Catarina são palco de diversos processos que podem ter dimensões catastróficas para a sociedade. Os escorregamentos atingem sobretudo as encostas íngremes recobertas por solo, enquanto as inundações rápidas (enxurradas) ocorrem nos fundos de vale”, explicou a geógrafa e vice-presidente da União da Geomorfologia Brasileira (UGB), Maria Carolina Gomes.

Ela citou algumas razões pelas quais deslizamentos ocorrem. “Os escorregamentos acontecem quando o equilíbrio da encosta é rompido. Geralmente ocorrem devido ao aumento da umidade no solo, que leva à diminuição da sua resistência. Por isso chuvas intensas e prolongadas, comuns durante o verão, são um cenário muito favorável para a ocorrência”, afirmou.

Atitudes humanas também podem contribuir para aumentar o risco. “Não podemos esquecer que a ação humana também pode provocar escorregamentos, seja ao promover cortes e aterros nas encostas muito altos ou com declividade muito elevada, ou mesmo por lançar águas servidas e esgoto diretamente no solo, por exemplo”, explicou a professora.

Lições

Para o professor Aumond, a organização da Defesa Civil, principalmente no Vale do Itajaí, é um exemplo de prevenção, assim como o mapeamento de áreas de risco para as pessoas habitarem. Porém, para ele, é necessário avançar nas políticas públicas.

“É preciso criar condições para que a população possa instalar suas residências em locais mais seguros”, afirmou.

A professora Maria Carolina Gomes falou que mais estudos são necessários. “Ainda conhecemos pouco sobre a distribuição das chuvas em relevos montanhosos. Geralmente estes exercem uma forte influência nas chuvas, pois criam barreiras, mas como as estações meteorológicas estão instaladas nas áreas de baixadas, não conhecemos os reais valores e muito menos como se distribuem. Essas são informações essenciais para a criação de um sistema de alerta”, disse.

Ela também falou sobre algumas ações já feitas no estado. “Muitos municípios de Santa Catarina possuem mapas de risco e cartas de suscetibilidade a esses processos, em sua maioria elaborados pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM). Entre eles destacam-se os municípios do Vale do Itajaí e da Serra Geral, regiões naturalmente mais propensas a ocorrência dos desastres”, finalizou.

Deslizamentos em SC

Relembre alguns dos deslizamentos ocorridos em SC nos últimos 10 anos.

Presidente Getúlio, em 2020, junto com enxurrada – Além das mortes, os prejuízos econômicos causados chegaram a R$ 60 milhões, segundo a prefeitura.

Em 2021, mãe e filha morreram em um deslizamento de terra na região do bairro Saco Grande, em Florianópolis, em janeiro.

Um adolescente de 17 anos morreu em 2016 após uma casa desabar com um deslizamento em Orleans, no Sul do estado.

Serra do Rio do Rastro foi palco de diversos deslizamentos ao longo dos anos. Em 2016, uma rocha chegou a atingir um carro que passava pela estrada. O motorista ficou ferido, mas sobreviveu.

Fonte: G1 SC

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