Opinião | “A alma da Oktoberfest é brasileira – e cada vez mais plural e política”

Foto: Daniel Zimmermann/Reprodução

A Oktoberfest é muito mais do que uma festa: é um símbolo de Blumenau, um patrimônio cultural que ultrapassa governos, partidos e crises econômicas. Criada em 1984, após uma grande enchente, ela nasceu como uma forma de reconstrução e virou o maior evento turístico de Santa Catarina. A festa movimenta a economia local, gera milhares de empregos temporários e impulsiona setores como hotelaria, transporte, gastronomia e turismo. Mais do que uma tradição, tornou-se um ativo econômico e cultural da cidade, consolidando Blumenau como referência nacional em organização de grandes eventos.

Ao longo dos anos, a Oktoberfest se profissionalizou. Hoje é uma marca consolidada, administrada com planejamento, tecnologia e foco em sustentabilidade. A festa deixou de ser apenas uma celebração popular para se tornar um exemplo de gestão de eventos no país, atraindo turistas de todo o Brasil e do exterior. Essa profissionalização garante que, mesmo com mudanças políticas, a Oktoberfest continue crescendo e fortalecendo a imagem de Blumenau como uma cidade que une tradição e inovação.

Um dos reflexos desse amadurecimento é o Summit Oktoberfest, evento que acontece paralelo à festa e reúne lideranças empresariais, turísticas e culturais. É o momento em que a cidade se transforma em um grande centro de ideias e negócios, promovendo debates sobre turismo, economia criativa e sustentabilidade. O Summit mostra que a Oktoberfest não é apenas diversão — é também conhecimento, oportunidade e desenvolvimento regional.

Apesar de suas raízes alemãs, a Oktoberfest de Blumenau é, cada vez mais, uma festa feita pelo Brasil. Os trajes, as danças e a culinária preservam a tradição dos imigrantes, mas quem dá vida à festa é a diversidade do povo brasileiro. É o garçom do Nordeste, o turista do interior paulista, o músico catarinense, o artesão paranaense. É a mistura que transforma uma celebração germânica em um espetáculo nacional. A Oktoberfest é de Blumenau, mas o seu espírito é brasileiro — alegre, acolhedor e cheio de futuro.

Do ponto de vista político, é fundamental que a festa reflita também a participação preta na cultura, na economia e no processo decisório da cidade. Essa presença tem crescido a cada edição, com mais pessoas negras desfilando, se apresentando e ocupando espaços dentro da estrutura do evento. Ver rostos pretos nos desfiles, nas bandas, nos estandes e até nas equipes de organização é um sinal de avanço — um reflexo de uma Blumenau que começa a reconhecer a contribuição negra na construção cultural e social do Brasil. Políticas públicas de cultura, editais, incentivos e inclusão são caminhos para que pessoas negras não sejam apenas público, mas também agentes ativos da Oktoberfest. Assim, Blumenau fortalece valores democráticos, combate desigualdades históricas e reafirma que uma festa cultural sólida é também uma festa plural e representativa.

Marco Antônio André, advogado e ativista de Direitos Humanos

1 Comentário

  1. A Oktoberfest há muito deixou de ser uma festa popular. Hoje, tornou-se um evento elitizado, e o povo, como bem observou o colunista, se resume ao garçom nordestino. Assim, o povo foi colocado em seu “devido lugar” pela loira Blumenau. Afinal, que pai de família consegue levar a esposa e os dois filhos à festa e sair de lá sem gastar ao menos R$ 600,00? Com chope a R$ 16, cachorro-quente a R$ 32, batata frita a R$ 56 e ingresso a R$ 70 no sábado — para quem trabalha em escala 6×1 — ou R$ 56 para os da escala 5×2, a Oktoberfest transformou-se em uma vitrine da burguesia. Muito longe ao que se propôs em sua criação.

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