Desde a última segunda-feira, depois da ação do Governo do Estado para garantir o fechamento das comportas da barragem Norte, em José Boiteux, que usou a força no lugar das ações prometidas aos indígenas, representantes do Movimento Blumenau pela Vida estão indo até ao local prestar solidariedade e ver como ajudar. São pessoas ligadas a movimentos sociais, sindicatos e partidos políticos.
Nesta quinta-feira ouvi o relato do jornalista Júlio Castellain, do Sintraseb e Sindetranscol, que esteve na reserva nesta terça-feira. Conheço Júlio há mais de 25 anos e reconheço a importância do seu trabalho no contraponto à imprensa. E por isso abro espaço para o que conversamos e espero ser fiel ao que me falou.
Júlio lembrou a questão histórica da barragem, que quando construída inviabilizou as melhores terras da reserva, mudando a vida dos indígenas ate então. Por conta da desapropriação de parte de suas terras, desde então, as ações mitigatórias deveriam ser permanentes e não pontuais, numa responsabilidade que é do Estado e da União, afinal a operação da barragem Norte é interesse de Santa Catarina em terras federais, em tese, de responsabilidade da FUNAI.
E fez uma boa alusão com a realidade que vivemos em muitas cidades do Vale. Se o lago enche, pessoas precisam ser removidas. E o lago enche em caso de fechamento das comportas. Estas pessoas precisam do auxílio do Poder Público. Abrigos, transporte para sair de casa, atendimentos de saúde e por aí segue. Blumenau tem know how.
“É um retrato da diferença da assistência”, referindo-se a justa preocupação com a população das cidades do Médio Vale do Itajaí, mas fazendo o comparativo com o atendimento prestado aos indígenas Júlio lembra que pelo menos pessoas de pelo menos sete aldeias são atingidas quando o lago enche e precisam ser removidas. Qual é o plano de contingência, a estratégia do Estado para estas famílias, é o comparativo que o jornalista faz com a justificada assistência com a população que fica abaixo da barragem ganha. Com esta linha de raciocínio fica mais fácil entender o drama que cerca de três mil indígenas das nove reservas vivem.
Júlio Castellain relata que a ambulância e um barco, fruto do acordo firmado antes da da chuva bater na bunda das autoridades, chegaram. Os barcos, inadequados para remover as famílias e sem operador, assim como a ambulância. Deixaram para a comunidade assumir.
Acompanho há muito tempo, como jornalista, este debate, e entendo ele como complexo. E que não resolveremos enquanto não tivermos empatia e entendermos que que todos somos seres humanos, nem melhor e nem pior, e que os cuidados do Estado devem se estender para todos. Ponto.