Sobre a simplicidade da vida com filhos

 

Coluna: MATERNIDADE

por SABRINA HOFFMANN
jornalista e mãe

 

Dia desses estava dando banho na minha filha quando ela resolveu me contar que na escolinha o papo do dia havia sido sobre mães. Breve silêncio. Tensão no ar. E seguiu o discurso: “a prôfe perguntou o que a gente mais gosta na nossa mãe o que ela faz de mais legal pra gente”. Gelei.

Afinal de contas, o que ela respondeu? Será que foi “perdeu a aposta comigo e agora vai ter que me dar a Casa da Barbie”? Ou talvez: “me levou no shopping , me deixou comer um ‘Mc longe feliz’ e escolher o brinquedo”?

Perguntei, com certa preocupação, sobre a resposta que ela havia dado. “Gosto do seu cabelo porque posso mexer nele antes de dormir e o que você faz pra mim que eu mais amo são bolos”. Ca-be-lo. Bo-lo. Eu, que havia me esquecido que preocupações de adultos não tem vez no mundo incrível das crianças, estava esperando uma listagem de bens materiais e passeios que me custaram o limite do cartão de crédito. E recebi a resposta capaz de fazer eu me recolher à minha insignificância e repensar os meus valores enquanto mãe.

Ter filhos é um processo desafiador e uma missão como nenhuma outra. Envolve tempo, custo, preparo, abnegação. A gente rala dia após dia pra tentar dar a eles tudo o que não tivemos. Pecamos muito mais por excesso do que por falta. E nessa ânsia de satisfazer desejos que nem sempre são os que os eles carregam, deixamos de lado as pequenas e maravilhosas coisas que a vida com filhos nos proporciona. Coisas muito, mas muito mais bonitas do que a gente costuma ver quando o cansaço da rotina louca e corrida nos consome.

Para o seu filho, não importa se um brinquedo custou o olho da cara. O tempo que você dedicou para abrir o pacote, sentar no chão com ele e curtir vai ser o que ele vai levar pro resto da vida. As crianças não estão preocupadas se a sua rotina está um caos e você se culpa diariamente por não dar a eles o melhor calçado, a melhor roupa ou um quarto equipado bem ao estilo montessoriano. Elas só querem poder desfrutar de uma brincadeira de massinha, que vai deixar o tapete manchado.

Marcas de um dia feliz, de momentos que passam e nunca mais voltam.

Enquanto eu esperava por uma resposta que fizesse jus ao meu esforço como mãe, esqueci de olhar em volta e ver as pequenas coisas que fazem da minha filha uma criança realizada: o cafuné na hora de dormir, o bolo preparado a quatro mãos, com direito a lamber a bacia de massa no final.

Parei pra pensar na minha infância e vi que foram justamente momentos como esse que eu recordo até hoje. O cheiro da bala de nata, a barraca montada no meio da sala nos dias de chuva, o colo quando alguma doença chegava.

E me dei conta de que é na simplicidade que a realização de pais e filhos pode se esconder. Basta a gente voltar a ver o mundo com os olhos de criança e perceber que muitas coisas não tem preço, mas um valor inestimável.

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