Sobre a Capivara e outros bichos linguarudos que se escondem no anonimato

Com mais de 30 anos de jornalista, do analógico ao digital, sou um defensor intransigente da liberdade de expressão. Mas com responsabilidade.

A comunicação mudou e a internet trouxe uma amplitude que permite a a todos que queiram se tonarem produtores de conteúdo. A interação é um caminho sem volta, mas a informação de qualidade ainda é um pilar da cidadania e um direito de todos.

Em anos de campanhas eleitorais é comum encontrarmos baixarias, acusações e ilações anônimas contra determinadas candidaturas. Lembro de uma eleição quando o entorno da Prefeitura amanheceu cheio de folhetos apócrifos, mentirosos e maldosos  contra um candidato. Os tempos mudaram e hoje este esgoto é feito pelas redes sociais, com muito mais intensidade, havendo uma proliferação de perfis anônimos, gente que não tem coragem e se esconde para atacar os outros.

Mas o recente episódio da divulgação da identidade, pelo Poder Judiciário, do criador do perfil “Capivara Linguaruda” precisa ser aprofundado e investigado, com a tomada das medidas cabíveis, até por que o denunciado é uma figura que ocupa um cargo público. É Allison do Nascimento, que já foi cargo comissionado na Prefeitura de Blumenau, agora está lotado na Assembleia Legislativa, no gabinete do deputado estadual Ricardo Alba (PSL), pré-candidato a prefeito, que passava imune das críticas pelo perfil.

Allison, cuja a formação é Educação Física e não comunicação ou jornalismo, alega  que tem “direito à liberdade de expressão, aqueles que se sentem ofendidos de alguma maneira tem direito de recorrer à Justiça. Faz parte da democracia.” Ele está errado, não faz parte da democracia se utilizar de um perfil anônimo para atacar quem quer que seja.

Allison isenta o deputado Ricardo Alba. “Embora eu seja assessor parlamentar, o gabinete em que trabalho, muito menos o deputado, sequer sabiam de minha atividade junto à página denunciada.”

São algumas perguntas. É verdade que ninguém sabia? Allison fazia as postagens em que horários? Ele fez alguma postagem do gabinete na Assembleia ou do escritório parlamentar do deputado?  Ele teve ajuda de alguém? Mesmo não sendo da área da comunicação, onde aprendeu as técnicas de comunicação que empregava?

Confesso que esperava uma reação mais enérgica do chefe dele, o deputado Alba. Para o Informe, ele disse que desconhecia a autoria da página, que não compactua com fake news, mas chegou a me perguntar se todo o conteúdo lá era mentira. Também fez questão de frisar que existem outros perfis falsos que adotam a mesma tática e disse que não acompanhava muito a página, que bombava em grupos de whatsapp que ele participava.

Falou que ia conversar apenas com o servidor, sem sinalizar penalidade, apesar da gravidade do ocorrido.

Como o Allison deixou claro, quem se sente ofendido pode recorrer à Justiça e foi o que fez o candidato a prefeito João Paulo Kleinübing (DEM), que já conquistou o primeiro passo, tirar a máscara de um anônimo, revelando que era um servidor público comissionado. Certamente Kleinübing não deixará barato e levará a questão também para a vara criminal, além da eleitoral.

Que bom que a Justiça se manifestou já na largada, dando um aviso para quem entende que atacar adversários é a melhor forma de se fazer campanha. Tomara que continue vigilante.

 

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