Opinião | Uma conversa de ouvido surdos, é uma escolha. E essa escolha custa caro ao Brasil

Imagem gerada com IA

Antes de tudo, vamos ser diretos: surdez não é problema, tampouco metáfora para ignorância. Pessoas surdas têm sua cultura, sua língua e seus direitos. O que está em jogo aqui é outra coisa: a ignorância seletiva, a mania de escolher não ouvir o que incomoda. Isso não é deficiência, é covardia política.

O Brasil sofre de um mal cada vez mais enraizado: a escolha consciente de tapar os ouvidos para tudo o que não reforça a própria bolha ideológica. É a esquerda que prefere ignorar erros de gestão quando “é o seu lado no poder”. É a direita que finge não ver abusos e crimes porque “o mito” ou “a família tradicional” precisam ser protegidos. No fim, sobra um país onde o que importa não é a verdade, mas aquilo que massageia o ego da tribo.

Essa surdez escolhida tem efeitos devastadores. Enquanto brigamos em rede social por quem grita mais alto, o Brasil vira tabuleiro de interesses internacionais. Washington, Bruxelas, Pequim, Moscou: pouco importa o endereço. Todos sabem que basta lançar uma narrativa aqui dentro para nos dividir em dois bandos cegos e ensurdecidos — cada um agarrado ao seu próprio mito.

Se uma potência estrangeira apoia o candidato que gostamos, chamamos de “cooperação internacional”. Se apoia o outro lado, viramos patriotas inflamados contra a “interferência externa”. É o festival da hipocrisia. O discurso muda conforme a conveniência, mas a consequência é sempre a mesma: o Brasil perde soberania enquanto seus cidadãos se comportam como torcidas organizadas de líderes populistas.

Ouvir o contraditório virou ofensa pessoal. Ler uma fonte fora da bolha é tratado como “traição ideológica”. E assim seguimos: com ouvidos tapados por escolha própria, aplaudindo apenas o eco das nossas certezas. Enquanto isso, a realidade — a das disputas de poder, da economia, da soberania nacional — passa batida.

Não ouvir por não poder é uma condição. Não ouvir por não querer é uma escolha. E escolhas têm preço. No caso do Brasil, o preço dessa ignorância seletiva é alto: entregar de bandeja o futuro da nação para quem sabe manipular nossa surdez conveniente.

Marco Antônio André, advogado e ativista de Direitos Humanos

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