Opinião – Um ensaio sobre o tempo

Imagem: "O Navio Negreiro", de Johann Moritz Rugendas/Reprodução

“Afinal, há é que ter paciência, dar tempo ao tempo. Já devíamos ter aprendido, e de uma vez para sempre, que o destino tem de fazer muitos rodeios para chegar a qualquer parte”.

Faz muito que José Saramago pediu, com sua poesia, um pouco de compreensão com os acasos dos dias… respirar! Simplesmente é preciso aceitar, até mesmo para não endoidar, que boa parte da vida é feita na tortuosidade, em desencontros e retomadas. Se hoje seguramos nas mãos o juízo, amanhã vai saber o que os olhos são capazes de deixarem escapar. As certezas de agora podem voltar em outra curva do tempo, indiferente ao esforço, do fim.

Existem alguns períodos prontos para o nosso arriar das velas. Olhar para o alto, livre de amarras, com o barco seguindo um rumo qualquer. É como deixar ao destino a sorte de pôr quais ondas navegar. Restando aos embarcados o desfrutar das paisagens, dos cantos, dos ventos e encontrar alento para as tempestades que chegar.

Viver, às vezes, é observar o acelerar da ocasião, ou a lentidão da preguiça. Como fitar o horizonte… muito longe, distante para alcançar.

Que bom seria se a vida chegasse como um manual perfeito, pronta para ser copiado, compartilhado. As agruras, estou certo, ficariam de lado. Dá para imaginar o que os astros, as estrelas poderiam apontar? Aproveite o agora para ganhar velocidade e o amanhã para descansar? Ajuste o leme na direção “X” e seja feliz? Talvez!

É uma pena, carta de navegação alguma é capaz de livrar os marujos de arrepios, dos desafios, do tombar da embarcação, do arrependimento, do mar. Já dizia o velho The Beatles: “Viva e deixe viver; Viva e deixe morrer”! Sem um instrumento, sem rumo é preciso experimentar o caminho, seja qual surgir.

Desacelerar não é uma vontade, mas uma necessidade. E estas datas que comemoramos, como a de hoje, de simbologias e reflexões, entregam mais que guloseimas, confraternizações. Servem para esvaziar a impertinente ansiedade. Ao menos para mim, parece que sempre foi assim. Quando a sandice chega lá fora, trato logo de pegar outro rumo e nesta carona vou logo para o barquinho remar.

“Só quem partiu pode voltar. E eu voltei pra te conta, dos caminhos onde andei”. O que Elis Regina não canta é que depois de muitos rodeios, muitas curvas, muitas andanças, tudo tende ao caminho certo retornar.

Calma, fé e boa páscoa!

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