Opinião | Tudo o que é demais, estraga

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De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 156 milhões de brasileiros poderiam votar neste ano, sendo que Lula conquistou 60 milhões e 300 mil eleitores e Bolsonaro obteve 58 milhões e 200 mil. Como voto é obrigatório, as abstenções são naturalmente altas: 32 milhões e 200 mil não compareceram às zonas eleitorais e 5 milhões e 700 mil anularam ou votaram em branco. Somados, essa “galera do contra” representa mais que metade dos votos de Bolsonaro, que ficou a apenas 1,8% do eleito! Pois é, todo mundo queria uma terceira via, enquanto esses “votos de ninguém” ficaram pelo caminho. Essa é uma das lições desta eleição. Outra, foram os episódios de Roberto Jefferson (PTB) e Carla Zambelli (PL), deixando clara a diferença entre extrema-direita e direita. Responsabilidade fiscal, conservadorismo e liberalismo econômico não são sinônimos. Da mesma forma, eficiência fiscal não significa a extinção de auxílios sociais e direitos civis, que são conquistas que tornaram este país mais civilizado. 

Para o futuro, a direita deve se reorganizar em torno de um candidato viável para 2026, sendo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), um concorrente natural à presidência. Existem alternativas como o Novo, de Romeu Zema, porém tudo o que é regido por princípios ideológicos restritivos, se limita. Como um partido poderia fazer uma campanha presidencial apenas com doação espontânea de dinheiro? Por outro lado, o PSDB elegeu três governadores, afastando o risco de extinção. João Amoedo seria uma boa aquisição tucana, representando que ser de direita não significa ser conservador ou populista. Para quem não quer a esquerda no poder, a solução duradoura é uma direita competitiva, mas civilizada. 

Pra frente!

Se o Brasil é um país novo, a democracia por aqui é ainda mais recente, e por isso, muitas vezes beira a infantilidade. Fica como aprendizado que pesquisa é um retrato do momento, e não previsão do futuro. No segundo turno, em 28 de outubro foram divulgadas as que mais se aproximaram do resultado final: o Paraná Pesquisas apontou vitória petista por 47,1% contra 46,3%, e o instituto MDA, eleição de Lula por 46,9% a 44,9%, este último errando por apenas 0,2% a diferença oficial entre os candidatos. 

Por fim, esse não será um governo do PT, especificamente, mas uma frente ampla, com interesses da esquerda, centro e direita moderada, que deve incluir nomes conciliadores como Geraldo Alckmin, Simone Tebet, Marina Silva e Henrique Meireles. Lula terá que articular o tempo todo, com toda a sociedade observando seus passos. No Congresso e Senado Federal, embora o PL seja maioria, há fusões acontecendo, incluindo a do União Brasil com o PP, que se tornaria a maior bancada e tende ao diálogo com o governo. Isso embaralha o jogo. Também deve-se levar em conta que nos estados o PT e União Brasil elegeram quatro governadores, MDB, PSDB e PSB têm três, PP, PSD, PL e Republicanos dois, além do Novo e Solidariedade, com um. Está tudo muito dividido, o que pode ser produtivo para o amadurecimento da mentalidade política nacional. Pode-se aprender aí outra lição: assim como ninguém é tão poderoso para governar sozinho, nenhum país é tão rico que possa se dar ao luxo de fechar portas. Por mais prosperidade, deve-se estabelecer comércio com o mundo todo e, para isso, o Brasil precisa de menos blá, blá, blá e mais eficiência, seja qual for o governo. Quem tem fome não tem lado, até porque o estômago não fica na direita, nem na esquerda. Fica no centro.

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