Opinião: solidariedade a Douglas Leoni e os artistas que resistem

A cidade de Brusque está envolvida em uma polêmica em torno de uma obra de arte. A exposição Povo de Dentro é uma série de figuras com diversas formas e expressões em que o autor Douglas Leoni proclama sua compreensão do mundo e as contradições que enxerga nele.  Faz arte de rua, retrata o povo, enxerga e traduz para que o povo se enxergue nele. As figuras não são uniformes e o artista expressa elas em diversas formas e tamanhos. Em 2020 o artista foi contemplado pela Lei Aldir Blanc para produzir 10 painéis.

Conheci Douglas Leoni enquanto ele cursava Artes na Universidade Regional de Blumenau (FURB). Ele chamava a atenção pelo seu protagonismo e liderança entre os estudantes e das intervenções artísticas e políticas nos corretores e eventos da universidade.  Artista, educador sempre que atuava seja como artista ou como estagiário do então Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid)

A polêmica que só se explica se levarmos em conta o cenário de distopia que este país está metido. Isto porque um dos painéis, pintados na sede da fundação cultural da cidade, foi simplesmente apagado, em uma madrugada de sexta para sábado.

Nas explicações, a Prefeitura Municipal informou que iria abrir uma investigação para descobrir se houve irregularidades. Detalhe: a cor que cobriu é próxima a cor do prédio. A polêmica da censura da obra de Douglas Leoni se amplia pelo fato de que empresários ligados ao bolsonarismo, influentes na política local, são críticos da obra do artista. “Bonitinho mesmo é ver uma cidade com o muro branquinho” disse um.

O Ministério Público Estadual já determinou que se investigue a destruição da obra do artista. Além de um ato de censura, também representa a destruição do patrimônio público, uma vez que o painel foi pago com verba pública. Porém cobrar o esclarecimento do fato e, sobretudo denunciar qualquer ato de censura é um dever político dos livres.

Censurar a arte e tentar normatizar o que define uma expressão artística é um fenômeno que acompanha regimes políticos autoritários.  O poder político autoritário, para se perpetuar, precisa colocar ordem no discurso. Para tanto, precisa silenciar as vozes dissonantes, sobretudo daqueles que procuram expressar a arte do povo. Solidariedade a Douglas Leoni e os artistas que resistem nestes tempos. Precisamos deles.

 

 

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