Opinião | Silêncio, honra e rachadinha: como a velha guarda da ética trocou o compasso pelo Capitão

Foto: Agência Brasil

Entre juramentos de integridade e acusações de corrupção, parte da elite discreta preferiu fechar os olhos — e abrir espaço para o populismo familiar.

A direita brasileira, ao que tudo indica, não foi apenas sequestrada — ela foi submetida. E o mais assustador é que não se trata apenas de influenciadores de rede ou militantes de ocasião. Até setores historicamente ligados à defesa da ética, da ordem, da moral e da tradição — alguns que operam sob códigos milenares e rituais de retidão — escolheram o silêncio. Trocaram o compasso pelo capitão.

Antes de Jair Bolsonaro, o espectro da direita brasileira abrigava intelectuais, liberais, conservadores de princípios e reformistas com propostas. Havia divergência, havia conteúdo. Hoje, resta o culto. O que era um campo ideológico virou um terreiro de idolatria. E entre os fiéis mais silenciosos, estão aqueles que deveriam ser guardiões do discernimento e da responsabilidade pública.

É impossível ignorar o estrondoso silêncio de grupos e figuras públicas que sempre ostentaram discursos sobre ética, família e pátria, mas que agora preferem não ver — nem ouvir — as denúncias que pairam sobre os Bolsonaro. Rachadinhas, vínculos com milicianos, lavagem de dinheiro, tráfico de influência… A lista de acusações é longa, e a passividade é ainda mais constrangedora.

O que houve com os guardiões da honra?

Aqueles que juraram defender a verdade e o bem comum hoje se ajoelham diante de uma família que transformou a política em um negócio hereditário. O capitão virou símbolo de tudo aquilo que esses grupos sempre disseram combater: o personalismo, o populismo e a corrupção travestida de carisma.

A direita virou bucha de canhão de um clã. Eduardo, Flávio e Carlos Bolsonaro não representam uma ideia — representam a permanência da família no poder. O que começou como uma promessa de combate à corrupção virou um escudo para blindar os próprios escândalos. E a cada crítica abafada, a cada desvio ignorado, mais se reforça a impressão de que há setores que se vendem fácil — não por dinheiro, mas por conveniência e status.

E quem ousa romper com o transe? É cancelado. Kim Kataguiri, Joice Hasselmann, Janaína Paschoal, MBL… todos viraram “inimigos da pátria” só por se recusarem a participar da farsa.

Quando a direita virou caricatura?

A ironia final é ver essa nova direita repetir os mesmos vícios que dizia combater no PT: culto ao líder, nepotismo, discurso vitimista e agressividade com qualquer um que pense diferente. Só que sem projeto de país, sem avanços sociais e sem coerência histórica. Só há uma família — e um exército de bajuladores.

A direita brasileira não está apenas sequestrada. Está domesticada. E o que deveria ser um campo ideológico fértil se transformou num curral emocional, onde até os mais antigos defensores da ética e da ordem — que deveriam ser luz na escuridão — decidiram deixar a lanterna cair, contanto que o capitão ainda segure o mastro.

Marco Antonio André, advogado e ativista de Direitos Humanos

3 Comentário

  1. O autor até que sabe escrever uns textos bem rebuscados para criticar a Direita… Uma pena que simplesmente só quer ver um único lado da moeda, a que lhe convém, alinhado com a mídia amestrada brasileira.

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