Opinião: pelo fim das torcidas

Imagem: obra de Gustavo Rosa - Barcos e Navios

Diz um ditado que no Brasil o catolicismo é a segunda maior religião do país. Em primeiro lugar está o futebol. Por isso, nunca, em nenhuma hipótese, no tempo que estiver nesta terra, inicie briga alguma por uma, ou peça ajuda do céu por outra. Brincadeiras de lado, todos têm o direito de possuir suas convicções, crenças, esperanças. Torcer com afinco para que as cores prevaleçam no mundo, que ao adormecermos os sonhos apenas comecem e sigam vivos nos olhos, na mente, na manhã seguinte.

Desejar e querer muito é natural, é para todos… até eu, um sujeito moribundo. O que não dá é para ser ingênuo e acreditar que basta apertar um interruptor e, boom!, as coisas vão acontecer.

O universo não é assim, Alice. Conforme-se! As maravilhas só existem depois de um esforço enorme de energia e movimentado. Como na teoria do Big Bang, nada em nossas vidas muda, existe, sem aquele átomo primordial. Fissão e fusão fazem o núcleo explodir. Metaforicamente a representação está nos atos do indivíduo e da sociedade ao longo do tempo.

Admito que esta reflexão pode ser um simples devaneio filosófico degustado com uma taça de vinho. “Das coisas existentes, algumas são encargos nossos; outras não”, dizia Epiteto. Como o juízo, desejo e a repulsa são responsabilidades minhas, reverbero o incomodo de estar no meio deste cabo de guerra entre torcidas que tomou conta do país.

Apaixonar-se perdidamente é bom! Entregar-se cegamente aos nossos sentimentos de bandeira e promessas é juvenil, perigoso. O amor de uma torcida poder ser importante para o confortar egos, ajudar a construir um pensamento diferente, mas nada além disso. Torcer não constrói uma ponte, nem encerra uma pandemia. Nenhuma vontade movimenta a roda da economia. Ações e construções fazem a bola rolar e, neste campo, todo dia é um novo 7×1 contra o Brasil.

O PIB cresceu 1,2% no trimestre de 2021? Caiu 1,5% em 2020! Pode crescer 4% neste ano? Caiu quase 5% no que passou! Quer comemorar o que cara pálida? Que em 30 anos trocamos sete vezes de presidente da república e assistimos a China (que era muito mais pobre que nós) assumir como maior potência econômica do planeta? Nós não perdemos a chance de perder uma chance.

Entra governo novo, velho, liberal de centro, liberal de direita, liberal de esquerda e sempre os mesmos problemas. Por aqui, deveríamos mudar o lema da bandeira verde amarela: decidimos hoje pelo direito de decidir amanhã.

A verdade é que o trabalho nosso deve ser sempre para buscar eliminar o fator sorte, esperança, torcida… no caminho da realização, do sucesso. Se tudo que resta para nós é ter fé, esperar e torcer, não resta mais nada!

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