Opinião | Os horizontes de 2026

Foto: Ricardo Stuckert/Secom

Os horizontes de 2026 começam a tomar forma. Lula e Tarcísio despontam como os contendores mais viáveis. Lula, se a economia estiver bem; Tarcísio, se mantiver discurso moderado e mostrar resultados em São Paulo. Bolsonaro é carta fora do baralho, dificilmente escapando à prisão no julgamento do STF.

Lula padece do desgaste natural: chegará com 80 anos, três mandatos e forte rejeição. Ainda assim, deve ir ao segundo turno e, se escapar dos efeitos do tarifaço de Trump, poderá abrir ciclo de quatro mandatos seguidos. Já Tarcísio tenta se legitimar como nome de consenso liberal, mas errou no discurso de 7 de setembro, ao adotar tom bolsonarista. Até então, sua moderação o aproximava de setores médios. Hoje, concentra-se nos 25% do eleitorado bolsonarista e em parte da direita e do centro. Outros 40% não se identificam com nenhum campo, enquanto de 15% a 21% alinham-se à esquerda.

O melhor para Tarcísio seria preservar a bênção de Bolsonaro sem radicalizar. Isso o tornaria um “bolsonarista viável”, apto a atrair centro-direita e moderados. Governa o Estado mais rico e estratégico, e, caso entregue bons resultados, se consolidará como gestor eficiente. Mas precisará combinar com outros nomes da direita — Ratinho Júnior, Zema e Caiado. A pulverização enfraquece o bloco.

Pesquisas indicam que uma candidatura única da direita teria melhores condições de vencer Lula. Num cenário com apenas um opositor, ele poderia alcançar até 48% no primeiro turno, contra 42% do governista. A vantagem garantiria vaga no segundo turno e narrativa clara: duas alternativas bem definidas. A pulverização, ao contrário, favorece Lula.

Este ainda conta com apoio consolidado em setores populares, mesmo sem o vigor de 2006 ou 2022. O PT terá dificuldade em lançar outro nome competitivo: Haddad e Jaques Wagner não têm o carisma do presidente. Isso reforça a polarização entre Lula e um nome da direita. Além disso, Lula aposta numa narrativa de defesa da soberania contra Donald Trump e seu tarifaço de 50% sobre exportações brasileiras, que pode causar prejuízo de até R$ 175 bilhões. Se o País escapar da crise que atinge mais de 150 economias, Lula aumentará suas chances.

Já Tarcísio precisa lidar com o cansaço do eleitorado com o radicalismo. A classe média, empresários e profissionais liberais buscam perfis conservadores e pragmáticos, capazes de dialogar. Nesse sentido, Tarcísio tem a vantagem de unir conservadorismo nos costumes com imagem de bom gestor — desde que retome a moderação. Sua fala contra Alexandre de Moraes, chamando-o de “tirano”, foi um erro que o aproxima do extremismo bolsonarista.

Se reencontrar o equilíbrio, poderá se consolidar como favorito em 2026, beneficiado pelo desgaste de Lula e pela saturação do radicalismo. Para isso, precisará manter bons resultados administrativos e evitar contaminação ideológica.

Por fim, cabe lembrar que a equação eleitoral não depende apenas da oposição. Economia, popularidade do presidente e agenda política terão impacto direto no humor do eleitorado. Mas a lição que emerge das simulações é clara: fragmentação enfraquece, unificação fortalece.

Gaudêncio Torquato é escritor, jornalista, professor titular da USP e consultor político

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