Opinião: os conflitos entre a esfera religiosa e a arte

Imagem: reprodução

Desde o dia 22 de maio a cultura tornou-se o centro da arena política de Blumenau. Tudo por conta do cancelamento das eleições para os novos Conselheiros de Cultura da cidade. Agentes políticos, jornalistas, religiosos e artistas passaram a debater a política cultural municipal e a relação existente entre a esfera religiosa e a esfera artística da cidade.

A contenda é atravessada por uma série de variáveis e interesses que vão desde o ambiente político polarizado, estratégias de ocupação de cargos públicos por políticos religiosos, até interesses ao acesso a verbas administradas pelo Fundo Municipal de Cultura, e admite várias explicações.  Tornou-se tão aguda a ponto de motivar o pedido de demissão do Secretário Municipal de Cultura.

O embate entre essas duas esferas faz lembrar um texto clássico de Max Weber. Apesar de ser conhecido por “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, ele inicia seus estudos sobre religião em um artigo anterior chamado “Rejeições religiosas do mundo e suas direções”, no qual aponta as tensões existentes entre as religiões e outras esferas sociais, dentre as quais: as esferas doméstica, econômica, política, estética, erótica e intelectual.

Para Weber, o objetivo das religiões é garantir ao fiel um estado sagrado, livre do sofrimento terreno. O status de salvo é lhe dado de forma transitória, através de rituais, ascetismo ou contemplação.  Para que o fiel encontre a salvação é necessário que ele atue racionalmente neste mundo segundo os preceitos da sua religião. A construção de ídolos, ícones, cânticos e outros artefatos religiosos, contribuíram para o desenvolvimento da própria esfera estética (ou artística), produzindo, inicialmente nas duas esferas uma relação íntima, sobretudo em relação à religiosidade mística. Porém, com o desenvolvimento do racionalismo ocidental e a consequente secularização da esfera estética, o mundo das artes passa a compor um “cosmos de valores independente” e a competir com a religião na função da salvação do mundo. Sobretudo nas religiões de salvação, as artes passam a ser interpretadas como idolatria ou blasfêmia. Nas palavras de Weber: “Quanto mais a religião ressaltou a supramundanidade de seu Deus, ou a ultramundanidade da salvação, tanto mais duramente rejeitada foi a arte.”

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