Opinião | O esculacho policial não resolve nada, mas o Brasil gosta mesmo assim!

Foto: Twitter/Reprodução

É comum que meninas e meninos cresçam com medo da polícia. Também é normal que adolescentes, especialmente os mais humildes e negros, comecem a explorar as cidades com um temor mortal de uma averiguação policial. Não deveria ser assim! Se perseguir, humilhar, constranger, intimidar gerar pavor resolvesse o problema da violência, da criminalidade, o país viveria, a muito tempo, na mais absoluta paz.

Nas periferias, especialmente entre homens e mulheres pretas, o impacto das abordagens policiais violentas abrem cicatrizes profundas na pele já machucada por uma série de desbalanços sociais. Esta prática comum, o esculacho, desrespeita o cidadão nos direitos mais básicos, condena o inocente antes mesmo da culpa existir. Acrescenta raiva, impotência, um terrível e crônico afastamento das pessoas das autoridades policiais.

Os especialistas podem apontar caminhos mais eficazes, que ajudem a superar a violência, tornando a atuação profissional mais técnica, menos tensa e ruidosa. O esculacho gera medo e desconfiança da população em relação à polícia, prejudica a credibilidade e eficácia das investigações e, acima de tudo, viola os direitos humanos, a dignidade dos cidadãos.

Todas as abordagens racistas, raivosas, podem, a partir de um julgamento que corre do Supremo Tribunal Federal (STF), passar para o lado das práticas aceitáveis (recomendadas) oficialmente pelo Estado brasileiro. A alta corte decide se é correto considerar a cor de pele como elemento de abordagem policial.

Se o tribunal institucionalizar o preconceito como prática comum, um instrumento antigo já adotado para política pública de segurança, radicalizará, ainda mais, a brutal caçada racial no país. Não seria absurdo imaginar que parte relevante da sociedade espere que as ministras e ministros do STF concordem com o racismo policial.

O esculacho ganhou popularidade no Brasil após o filme “Tropa de Elite” levar para o cinema a violência no combate ao tráfico de drogas nas favelas do Rio de Janeiro. Infelizmente, a ficção estimulou a justificativa para a violência nas abordagens policiais na vida real.

Por essa razão, é fundamental todo cuidado e atenção com este julgamento. É preciso que a sociedade se mobilize para exigir uma polícia mais respeitosa e eficaz, que proteja e sirva à população, em vez de intimidá-la e humilhá-la.

Para avançar no caminho da paz social, as instituições policiais devem reavalizar as capacitações e treinamentos. O Estado precisa ampliar fiscalização de maneira rigorosa, punindo os responsáveis por abusos, além do estabelecimento de uma cultura de respeito aos direitos humanos e à dignidade dos cidadãos pretos.

Perseguir, atacar os mais humildes, negros, é também um bárbaro crime. A sociedade não pode tolerar, em nenhuma hipótese, que agentes de Estado vivam a prática de abusos e intimidações. Neste momento, ou evoluimos ou a cidadania mergulhará nas trevas do atraso, da estupidez… na mais absoluta selvageria.

Tarciso Souza, jornalista e empresário.

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