Opinião | O custo invisível da energia limpa no Brasil

Imagem gerada com IA

O Brasil costuma ser exaltado por ter uma matriz elétrica “limpa”. E, de fato, mais de 80% da nossa geração de eletricidade vem de fontes renováveis, como hidrelétrica, solar e eólica. Mas quando se olha com atenção, surgem pontos que precisam ser melhor compreendidos, especialmente se quisermos uma transição energética sólida e duradoura.

Um desses pontos é a intermitência das fontes solar e eólica. Ao contrário da percepção comum, essas tecnologias não entregam energia o tempo todo. A energia solar, por exemplo, só é produzida durante o dia, e mesmo assim, depende da intensidade do sol. Já a eólica varia conforme a força e a regularidade dos ventos. O economista e especialista Adriano Pires chama atenção para um dado que raramente ganha manchete: o fator de capacidade. No Brasil, esse indicador fica entre 15% e 25% para a solar e entre 40% e 60% para a eólica. Isso significa que, na prática, essas usinas operam abaixo de seu potencial na maior parte do tempo.

Outro aspecto pouco discutido é o volume de subsídios que sustenta a expansão das fontes renováveis. Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), compilados pelo Poder360, mostram que, em 2023, as fontes renováveis (solar, eólica e geração distribuída) receberam R$ 17,8 bilhões em subsídios, o que representou 44,4% do total de encargos pagos via Conta de Desenvolvimento Energético (CDE).

Esse valor cresceu de forma acelerada nos últimos anos. No caso das grandes usinas solares e eólicas, os subsídios saltaram de R$ 3,97 bilhões em 2018 para R$ 10,78 bilhões em 2023. Já a geração distribuída (GD) ‒ modalidade em que o consumidor instala placas solares em sua residência ou empresa e injeta o excedente na rede ‒ passou de R$ 400 milhões em 2020 para R$ 7,13 bilhões em 2023.

O ponto central é: quem está pagando por essa energia dita limpa? Muitos dos beneficiados estão em áreas de maior renda, com acesso a crédito e tecnologia. Enquanto isso, milhões de brasileiros que não têm como investir em geração própria acabam arcando com a conta no final do mês — sem usufruir diretamente dos benefícios.

Não se trata de frear o avanço das renováveis. Trata-se de reconhecer que toda tecnologia tem limites — e que a transição energética precisa ser planejada com base em dados, responsabilidade e realismo. Energia limpa, sim. Mas com os pés no chão.

Jorge Amaro Bastos Alves, economista e professor universitário

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