
A inflação afeta o poder de compra, corrói salários, desorganiza investimentos e gera incertezas a empresas e consumidores. Existem causas e elas variam segundo o contexto econômico e político de um país, incluindo a cabeça de quem está no governo. Entre os fatores mais comuns, o aumento do gasto público costuma ser a causa central da inflação, principalmente quando o governo acredita que o Estado é o principal indutor da economia. O efeito é o mesmo do Ouroboros, quando o réptil come o próprio rabo e comete o canibalismo filial.
Quando o governo amplia seus gastos sem uma correspondente arrecadação de receitas (via aumento de impostos ou cortes em outras áreas), ele injeta mais dinheiro na economia sem um aumento proporcional na oferta de bens e serviços. Isso gera um descompasso entre procura e oferta, pressionando os preços para cima. O impacto é mais evidente em cenários de fragilidade fiscal, onde os déficits recorrentes e o aumento da dívida pública minam a confiança dos agentes econômicos.
O governo Lula, por exemplo, acredita que não há problema em aumentar a dívida pública, afirmando que outros países também fazem isso. Ele está certo?
Países desenvolvidos que adotam políticas de expansão fiscal geralmente contam com moedas fortes, credibilidade internacional e taxas de juros baixas. É assim que financiam déficits sem gerar pressões inflacionárias imediatas. No Brasil, onde a dívida pública já é elevada e os juros estratosféricos, o descontrole resulta em fuga de capitais, desvalorização cambial e isso gera inflação. Assim, a questão não é apenas se outros países recorrem ao endividamento, mas quais as condições estruturais que determinam seus efeitos sobre a economia.
Quando o governo amplia os gastos sem arrecadação equivalente, injeta mais dinheiro na economia, elevando a demanda por bens e serviços. Se, por limitações na produção, na logística e na competitividade, a oferta não cresce no mesmo ritmo, os preços sobem. Para conter a inflação, o Banco Central eleva a taxa de juros, encarecendo o crédito e desestimulando o consumo e o investimento. O aumento dos gastos, que era pra impulsionar a economia, acaba desencadeando um ciclo inflacionário que exige resposta da política monetária.
E o que acontece? Com juros altos, as empresas refreiam seus projetos de expansão, enquanto os consumidores reduzem o consumo devido ao custo do crediário. A queda do consumo arrefece a economia e, com isso, diminui vendas e gera desempregos. O paradoxo é que a economia fraca era justamente o que o governo queria combater com o aumento do gasto público. Fato: o lagarto comeu o próprio rabo. O aumento da dívida pública, potenciado ainda mais pelos juros estratosféricos, é a herança às próximas gerações.
Ciclo vicioso de crescimento anêmico e dependência de novos estímulos fiscais?
O resultado é uma conta que não se paga. Com economia estagnada e oportunidades escassas, os jovens mais qualificados buscarão melhores condições de vida no exterior, evadindo talento e produtividade. A submersão econômica reduzirá o número de empreendedores. Sem crescimento, arrecadação e investidores suficientes, a dívida pública é impagável. Sem condições de honrá-la, o Estado mergulha na crise irreversível, caminhando para o colapso econômico e social. Agora, o réptil comeu o próprio rabo e apelou para o canibalismo filial. Mas, isso aconteceu em algum país vizinho.
Walter Marcos Knaesel Birkner, sociólogo, autor de Sociologia Produtiva: BNCC, Desenvolvimento e Interdisciplinaridade. Florianópolis, Editora Arqué, 2024.
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