Opinião | Homeschooling: o novo fenômeno da Educação Básica

Foto: reprodução

Estamos em constante evolução, e a forma como as crianças e adolescentes são ensinadas também. Temos visto que a forma que o ensino vem sendo ofertada no Brasil, ao longo de décadas, não tem acompanhado esse processo evolutivo, tornando-se precário e de pouca qualidade. Em geral vê se uma desqualificação e desvalorização dos profissionais da aérea, infraestrutura inadequada entre outros fatores que interferem no processo de educação.

Uma alternativa que se apresenta frente a esse quadro mambembe é a educação domiciliar, popularmente conhecida como homeschooling, prática que consiste em educar as crianças em casa, sem frequentar uma escola tradicional. Esse fenômeno vem ocupando cada vez mais espaço em discussões tanto informais como acadêmicas, e também nas mídias em relação à sua efetividade e legalidade. O fato é que trata-se de um modelo de ensino domiciliar que tem ganhado cada vez mais adeptos no mundo todo.

Segundo especialistas, o homeschooling já é praticado em mais de 60 países e vem crescendo muito nos últimos 30 anos. Defensores da modalidade apontam que ela traz flexibilidade de horários, adaptação às preferências acadêmicas dos alunos e acompanhamento mais centralizado.

Nos Estados Unidos, a educação domiciliar moderna começou nas décadas de 1970 e 1980, defendida por reformadores educacionais progressistas, que esperavam libertar a criatividade interior das crianças, e por líderes evangélicos conservadores, preocupados com o ambiente das escolas públicas. De maneira abrangente, o currículo obrigatório aprovado pelos órgãos educacionais em cada estado americano para homeschooling consiste das seguintes disciplinas: inglês/artes da linguagem, matemática, ciências, biologia, química, física, estudos sociais, história mundial, geografia, economia, educação física, oratória, belas artes e estudos de língua estrangeira.

No Brasil, pessoas que são contra a prática elencam críticas no sentido de que a criança não terá acesso a diferentes visões e opiniões, terá falta de socialização e interação com outras crianças, além da possível doutrinação dos filhos pelos pais, que podem impor suas crenças e ideologias sem a necessária diversidade de visões e opiniões.

Por outro lado, os defensores do homeschooling alegam que essa modalidade oferece mais flexibilidade e personalização do ensino, permitindo que os pais possam adaptar o aprendizado de acordo com as necessidades e interesses dos filhos. Além disso, argumentam que a educação em casa oferece um ambiente mais seguro e livre de influências negativas, da falta de preparo de professores em determinadas matérias e do risco de doutrinação conforme viés ideológico imposto diariamente por alguns professores. Há ainda fatores como a violência, cada vez mais rotineira dentro e fora das escolas, principalmente nas públicas, e o risco de bullying.

O debate promete esquentar e vem tomando corpo no país. Diante dessa polêmica, o Senado Federal está discutindo um projeto de lei que estabelece critérios e regulamentações para o ensino domiciliar no Brasil, haja vista, que em 2018 o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que os pais não podem educar seus filhos exclusivamente em casa. Entre as medidas propostas, estão a exigência de autorização do Conselho de Educação local, a realização de avaliações periódicas e a comprovação da capacidade dos pais ou responsáveis em oferecer uma educação de qualidade.

Enquanto o congresso brasileiro não se posiciona, muitas famílias já optaram pela prática. Atualmente em torno de 35 mil famílias residentes em todos os estados praticam o homeshooling no Brasil. São cerca de 70 mil estudantes, entre 4 e 17 anos de idade, segundo estimativa da Associação Nacional de Educação Domiciliar (Aned). Portanto, não podemos fechar os olhos para as milhares de famílias que já praticam o homeschooling no Brasil, muitas delas na clandestinidade. É hora de levar esse assunto aos conselhos de direitos dos municípios e garantir que toda a população conheça essa modalidade e possa se posicionar sobre o tema. Afinal, a educação é um direito de todos e deve ser levada a sério.

O tema é relevante e tem impacto social, e percebe-se que a prática do homeschooling não tardará a se tornar uma nova modalidade de ensino no Brasil.

Sugestão musical ao leitor

 Another Brick In The Wall, Part Two – Pink Floyd

Karen Lili Fechner, Assistente Social, Especialista em Sistema Único de Assistência Social e Mestranda em Desenvolvimento Regional (PPGDR/UNC).

Jorge Amaro Bastos Alves, Professor da Universidade do Contestado (PPGDR/UNC), Economista, Mestre em Desenvolvimento Regional e Doutor em Ciência e Tecnologia Ambiental.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*