No Brasil, onde o Estado mal consegue cumprir funções básicas como segurança pública e educação de qualidade, volta e meia surgem ideias mirabolantes travestidas de estratégia nacional. A mais recente é a de que o país deveria criar seu próprio sistema de posicionamento global por satélite, semelhante ao GPS dos Estados Unidos, ao Galileo europeu ou ao BeiDou chinês. Tudo, claro, em nome da “soberania tecnológica”.
A proposta, no entanto, é um equívoco colossal. Implantar um sistema de navegação global exige investimentos superiores a US$ 10 bilhões, o que equivale a cerca de R$ 80 bilhões no câmbio atual. Isso significa mais de 1,4% do orçamento federal brasileiro de 2025, estimado em cerca de R$ 5,7 trilhões. Pode parecer pouco em termos relativos, mas estamos falando de uma despesa monumental em um projeto de retorno incerto e baixa prioridade nacional.
Para efeito de comparação, o orçamento da Agência Espacial Brasileira (AEB) gira em torno de apenas R$ 138 milhões anuais, ou seja, quase 600 vezes menor do que o montante necessário para empreender um programa satelital autônomo. Com esse orçamento, o país está longe, muito longe, de qualquer capacidade real de lançar, manter e operar dezenas de satélites em órbita, que exigem manutenção constante, estações de controle em solo, tecnologia de rastreio criptografada e centros de monitoramento de alta complexidade.
Políticas públicas devem ser julgadas pelos seus resultados, não por suas intenções. E os resultados previsíveis desse tipo de iniciativa são claros: drenagem de recursos escassos, desvio de foco do que realmente importa e inchaço estatal em áreas que deveriam ser deixadas ao livre mercado ou, ao menos, à cooperação internacional.
Como alertou o renomado economista Thomas Sowell: “A suposição de que gastar mais dinheiro do pagador de impostos melhora as coisas sobreviveu a todo tipo de evidência de que, na verdade, frequentemente as piora.”
Hoje, o Brasil já tem acesso gratuito e irrestrito aos principais sistemas globais de navegação: GPS (EUA), Galileo (UE), GLONASS (Rússia) e BeiDou (China). Soberania de verdade não se constrói com foguetes; constrói-se com educação, estabilidade fiscal, liberdade econômica e segurança jurídica. O resto é vaidade estatal e voluntarismo político, embalados em discursos ufanistas que ignoram as prioridades reais da sociedade brasileira.
Num país onde faltam recursos até para compromissos sociais básicos e o déficit público segue descontrolado, pensar em criar um “GPS próprio” é mais do que um erro: é um delírio orçamentário com cara de populismo técnico.
Portanto, o problema não está em gastar, mas, sim, em gastar mal. E, quando o Estado insiste em se aventurar em projetos bilionários sem retorno claro, quem paga a conta é sempre o pagador de impostos.
Jorge Amaro Bastos Alves, economista






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