Opinião | Do Planalto à prisão: por que o Brasil insiste em transformar democracia em circo

Imagem gerada com IA

O Brasil parece ter virado um laboratório político onde o povo é a cobaia. Em pouco mais de três décadas de democracia, já colecionamos um currículo que faria inveja a qualquer república de bananas: três presidentes presos e dois impichados. Para um país que tanto gosta de se gabar de ser “o futuro do mundo”, a realidade mostra que ainda estamos atolados no pântano da instabilidade política e institucional.

Tem gente que solta fogos, que comemora como se fosse gol em final de Copa. Mas comemorar a prisão de qualquer presidente, seja ele quem for, é uma distorção moral. Não porque fulano ou beltrano não mereça responder pelos crimes que cometeu, mas porque a festa diante da desgraça escancara nossa mediocridade coletiva. Prisão não deveria ser espetáculo, deveria ser lição.

E aqui entra a contradição: o Brasil se diz cristão, com quase 90% da população se declarando de alguma fé. Mas o mesmo povo que lota templos aos domingos também vibra com a desgraça alheia, esquecendo o mínimo de compaixão. Justiça, sim. Impunidade, nunca. Mas transformar o cumprimento da lei em carnaval político só reforça a lógica da guerra de torcidas que nos divide.

No fim, o problema não são só os presidentes que caem — é o país que insiste em não levantar. Se a cada década temos um mandatário algemado ou derrubado, isso diz muito sobre a qualidade das nossas escolhas e sobre a imaturidade de uma democracia que ainda engatinha. É como se o Brasil não tivesse entendido que democracia não é apenas votar de quatro em quatro anos, mas construir instituições sólidas, onde o crime de fato não compensa — nem para o poderoso, nem para o pobre.

Eis o drama brasileiro: uma democracia curta, já manchada por escândalos dignos de novela mexicana. E a pergunta que fica é dura, mas necessária: será que estamos fadados a repetir esse ciclo de quedas, prisões e impeachments, ou um dia vamos aprender que país sério se constrói com responsabilidade e não com idolatria e ódio?

Marco Antônio André, advogado e ativista de Direitos Humanos

4 Comentário

  1. O pior é ver um ex presidente sendo julgado por um crime que nunca cometeu , por um tribunal político .
    Este último que hora esta de tornozeleira e sendo julgado , junto com centenas de pessoas que fizeram um protesto pacífico (quem destrui foram os infiltrados) mostra que o atual governo esta cumprindo o que prometeu em campanha : Vingança.
    Mas ontem com a exposição de provas do Tagliaferro , talvez isto tudo acabe .
    Temos uma quadrilha no STF , que se juntou ao governo para tentar destruir a unica pessoa que eles temem nas eleições de 2026 .

  2. É com altos e baixos momentos que se constrói uma grande nação.
    O Brasileiro consciente é Conservador.
    Acontece que tem ainda muitos “Isentoes”e que estão dormindo em *berço esplêndido”.

  3. Gostei muito de sua narrativa, fica bem explicado que o fato de votar não garante d de votarmos não garante democracia. A elite brasileira nunca quis a democracia. Tentam impor uma autocracia da servidão voluntária.

  4. Triste realidade e colhemos o que plantamos, um cargo dessa magnitude jamais poderia ser assumido por indicação de presidente e sim concurso público, aí da no que deu eles planejaram direitinho e agora é só pagarmos a conta

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