Opinião | Desânimo: onde vamos parar?

Foto: reprodução

Eu ando mais desanimado do que presidente Jair Bolsonaro em uma Biblioteca Pública procurando por um livro da Fernanda Montenegro. Claramente, o atual presidente nunca entrou em uma Biblioteca Pública, quando muito leu o Rasputin de subúrbio: Olavo de Carvalho. Todavia, eleger uma atriz, que nunca escreveu um livro, para academia Brasileira de Letras/ABL completa a hipérbole da visão distópica que descrevi acima. Vivemos dias sombrios. Onde vamos parar? Uma simples pergunta  como essa pode ensejar censura, perseguição e caça as bruxas. A distopia continua. Em 27/10/2021, a BBC News noticiou que lésbicas estão sendo acusadas de transfobia por recusarem sexo com mulheres transsexuais. Quando eu ouvi isso eu me perguntei: é isso mesmo? Eu li direito? “Algumas lésbicas dizem que estão sendo cada vez mais pressionadas e coagidas a aceitar mulheres trans como parceiras – depois rejeitadas e até ameaçadas por falarem abertamente sobre isso”[1]

Vejam o argumento seguido de um relato:

“Há um argumento comum que tentam usar que diz: ‘E se você conhecesse uma mulher em um bar e ela fosse muito bonita e você se desse muito bem e fosse para casa e descobrisse que ela tem um pênis? Você simplesmente não estaria interessada?”, diz Jennie, que mora em Londres e trabalha com moda. “Sim, porque mesmo que alguém pareça atraente no início, você pode sair disso. Eu simplesmente não possuo a capacidade de ser sexualmente atraída por pessoas que são biologicamente masculinas, independentemente de como elas se identifiquem.”

Todavia, o que ela obteve como resposta foi:

  • Ouvi uma pessoa dizer que preferia me matar do que (matar) Hitler”, disse Jennie*, de 24 anos. (…)  “Disse-me que me estrangularia com um cinto se estivesse em uma sala comigo e Hitler. Isso foi tão bizarramente violento, só porque eu não faço sexo com mulheres trans”. *Ou seja, estamos diante de ameaças que não são mais veladas, contra todos aqueles que possuem uma preferência ou opinião diferente, tendo como consequência a perseguição, coação, enfim, ameaças diretas contra a integridade física do próximo: “Elas descreveram ter sido assediadas e silenciadas quando tentaram discutir o assunto abertamente. Eu mesma recebi insultos online quando tentei encontrar entrevistados usando as redes sociais”.[1] *

Vejamos outro fato noticiado pela mídia tradicional é uma mulher, aparentemente negra, na condição de gerente da rede de supermercados Carrefour humilhando um homem que está de joelhos limpando o chão. Ou seja, as mulheres, inclusive negras, que sempre sofreram humilhações, violências psicológicas diversas agora aparecem humilhando, abusando psicologicamente denegrindo um jovem homem[1]. Da mesma forma que mulheres transsexuais que sempre sofreram humilhações e perseguições por parte da sociedade agora ameaçam, inclusive fisicamente, mulheres homossexuais, por não terem a preferência sexual que as mesmas consideram corretas.  Por fim, Jordan Petterson, Psicólogo Clínico canadense em entrevista para a Revista Veja afirmou ao se referir a lei canadense que obriga como devemos falar daqui para frente, usando pronomes neutros:

*“A lei não é uma forma de garantir os direitos dos transgêneros? Garantir estes direitos não tem nada a ver com a forma como são chamados. Esta é uma escolha voluntaria. Eu não tenho nada contra usar com meus alunos o pronome que eles preferirem. Mas o governo decidir como a pessoa vai se expressar só para agradar uma parcela da sociedade é errado. Não se pode colocar limites na forma de expressão. Recebo muitas cartas de pessoas transexuais que apoiam meu trabalho, se incomodam com o papel de símbolo de uma campanha da esquerda ultrarradical pela dissolução das identidades clássicas e querem mesmo é tocar sua vida privada da melhor forma possível (…) A conduta correta para lidar com a vulnerabilidade é identificar a razão, criar uma hierarquia de medos e aprender a confronta-los e dominá-los. Proteger é uma abordagem errada. A história da psicologia clínica nos últimos 150 anos comprova que a exposição voluntária da pessoa ao que a ameaça ou incomoda é o caminho certo para ganhar coragem e superar problemas. A ideia de que proteger as pessoas é agasalhá-las em seus micro-espaços, para que nunca ouçam uma opinião que as ofenda ou contradiga, só faz com que elas se tornem mais fracas e amargas”. [1] *

Logo, a pergunta que faço é: onde vamos parar?  Esta simples pergunta não deveria ofender mas provocar a reflexão. Vocês não acham? Por fim, em 23/05/2019, o ministro Luiz Fux afirma: “Depois de termos passado os horrores do nazifascismo e do Holocausto, nunca mais se imaginou que o ser humano poderia ser vítima dessa discriminação em alto grau de violência.” Foi o que disse o ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal), ao votar a favor da criminalização da homofobia”. Ou seja, comparou-se o antissemitismo e perseguição sistemática contra os judeus, tendo em seu auge os campos de concentração, com o crime de homofobia.

Diante disso, pergunto: seremos os novos palestinos que diante da opressão do movimento sionista em seu projeto de limpeza étnica no Oriente Médio, como afirma  Ilan Pappé?  Vejam: “em 26/04/17, no distrito de Jaffa (Tel Aviv), seis valas comuns que podem conter cerca de 600 corpos de palestinos/as que foram massacrados em 1948. E os massacres seguem. Em Lydd: “As fontes palestinas narram que na mesquita e nas ruas ao redor, onde as forças judaicas fizeram mais uma onda de matança e pilhagem, 426 homens, mulheres e crianças foram mortos (176 mortos foram encontrados na mesquita). No dia seguinte, 14 de julho, os soldados judeus foram de casa em casa tirando as pessoas para a rua e empurrando cerca de 50 mil delas para fora da cidade, em direção à Cisjordânia (mais da metade já era refugiada de outros vilarejos próximos)”[1] Repito: seremos os novos palestinos que sem voz não podem reivindicar ou acusar os judeus de limpeza étnica para não ser enquadrado como racista ou nazista conforme a definição da Aliança Internacional da Memória do Holocausto?

[1] Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/geral-59052341
[2] Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/geral-59052341
[3] Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=B7ENYmoKmAQ
[4] Fonte: https://veja.abril.com.br/cultura/jordan-peterson-a-liberdade-de-expressao-e-perigosa-a-alternativa-e-pior/
[5] Fonte: https://outraspalavras.net/sem-categoria/ilan-pappe-a-coragem-crimes-de-israel/

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