Opinião: correr risco sempre

Imagem: O veado ferido, Frida Kahlo/ Divulgação Web

“Precisamos parar de vez em quando e fazer um balanço. Sentar e determinar em nosso íntimo o que tem realmente valor e o que não tem”. Meus domingos costumam possuir esta serventia proposta por Epicteto: de reflexão das escolhas que fiz e as influências – internas e externas – sobre estas. Expressar em poucas linhas é parte do exercício; todo retorno que recebo faz algo, dentro de mim, seguir mais leve. Obrigado por acompanhar esta tarefa!

Fazem uns três anos, mais ou menos, que conheci os ensinamentos de Nassim Taleb e, por consequência, de Mandelbrot e Mark Spitznagel. Reconhecidos no mercado financeiro, as lições deles, para mim, impacta muito mais na psicologia de como conduzir a vida, os negócios e a relação com os demais. O Tarciso de hoje é muito melhor que o de 2018 e, de tudo que aprendi até aqui, a devoção ao risco, ou o controle dele, ajudou a manter a cabeça no lugar e seguir na minha trilha.

Desde o primeiro abrir dos olhos até o momento que fechamos eles para sempre, uma última vez, precisamos conviver com os mais diversos tipos de riscos. Alguns ameaçam com gravidade nossa vida. Outros, apresentam consequências que podem interferir no fluir dos dias, clarear noites e escurecer a razão em domingos de sol. O que não dá é para negar a existência – implícita ou explicita – do risco em cada segundo.

Para mim, risco deveria ser assunto claro e direto na educação desde a infância. A natureza impõe esta regra em tudo que faz. Um pássaro, por exemplo, logo cedo é empurrado do alto da árvore, do seu ninho, por seus próprios pais. O conforto fica e as asas precisam funcionar para evitar o fim, o choque com o chão. A proteção é uma delícia, todos gostamos. Mas, estou certo, que compreender muito cedo a relação ganhos e perdas gerariam consequências positivas não apenas para o indivíduo, como para evolução da sociedade.

Este assunto pode ser uma discussão de boteco. Agora, pensa comigo: nós não estamos sempre, como questionaria Epicteto, “ansiando por coisas sobre as quais não temos nenhum controle e não nos satisfazemos com as que estão ao nosso alcance”? Nesta mesma mesa outro filósofo, o Nassim Taleb, responderia que “as pessoas vão para as escolas de negócios aprender a fazer o bem, ao mesmo tempo que garantem sua sobrevivência. Porém, o que a economia (ou a vida) pretende que eles façam coletivamente é não sobreviver, que eles próprios assumam um monte de riscos imprudentes e fiquem cegos pelas adversidades”.

Pessoalmente assumi um risco enorme em 2017. Eu não estava pronto para compreende-los. Nem para viver as consequências que aquela ação traria para os meus dias. Como ensina Taleb, “os empresários ignoraram tal possiblidade, pois acreditam que vencerão as adversidades”. Ainda hoje pago um preço que, compreendida a balança lá no passado, poderia evitar.

Fecho esta reflexão, e o domingo, lembrando mais uma vez de Epicteto: devemos sempre “avaliar quais são os riscos que valem a pena e quais não valem. Mesmo os mais confusos e penosos aspectos da vida podem ser mais toleráveis quando se enxerga com clareza e se fazem opções”.

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