Opinião: Caça as Bruxas

Imagem: Hospital Henry Ford/Frida Kahlo

Todos no mundo possuem suas lutas, enfrentamentos dos mais diversos. Por mais que a vida não tenha apresentado duros golpes em você, certamente obstáculos surgiram e, em algum momento, foi preciso sacodir a poeira, curativar os joelhos e juntar os pedacinhos do coração partido. Homem não chora, não é? Pudera a mulher ter a mesma sorte e também encontrar um número, ao menos parecido, de dificuldades para sobreviver.

É muito duro ter clareza que os dias na terra não são flores e pensar que alguém lá de cima olhou para barriga da sua mãe e disse: “será um privilegiado, toma pênis! Quem sabe na próxima uma pele branca, cabelo loiro e olhos azuis”. A margem da sociedade é mais próxima para os negros, gays, sem sobrenome, pobres. Para mulheres é ainda pior. Se ela pertencer a um dos grupos já citados multiplique várias vezes a dificuldade.

Durante toda minha infância e adolescência meus pais sempre foram muito disciplinados em oferecerem um tratamento igual para minha irmã e para mim. “Tarciso, nunca faça para nenhuma menina o que você não gostaria que fizessem para sua irmã ou para sua mãe”, repetia meu pai. Não sou nenhum lorde, admito. Mas, a atenção na formação que recebi não deixa escapar o sentimento de perplexidade com a realidade: mulheres sofrem muito mais para conquistar o mesmo reconhecimento que os homens.

Nestes passos da minha história, não lembro de nenhum momento que uma humana deixou de segurar minha mão. Sabe quando o gosto é que você pode mais que reverenciar as mulheres, que é preciso lutar ao lado delas para aprender de novo e quebrar um ciclo de repressão e desigualdade? Este é o sabor do meu gin.

“Homens têm medo que as mulheres riam deles. Mulheres têm medo que os homens as matem”. Margaret Atwood, a escritora canadense, tinha razão quando deu luz a frase. É triste pensar que “ter” um útero, fonte de vida, limita oportunidades de surgimento de uma genialidade no que elas quiserem. Com pavor também reflito sobre a falta de liberdade permitida para que elas possam escolher sobre o que fazer com corpo – e gerado nele -, pensamentos, jeitos, roupas, comportamento.

A decisão de tudo que envolve a mulher é, em larga medida, definida por homens. Foi humilhada no trabalho? Homens ocupam a maior parte dos cargos de chefia. Sofreu assédio? Foi estupra? Terá que fazer seu relata para um homem em uma delegacia, passar por um exame com homem e, possivelmente, terá um julgador homem na sua frente. Afinal, todo caminho para reparação do dano causado por um homem conta com um homem na esmagadora maioria das portas.

O caso envolvendo uma participante de um reality brasileiro neste final de semana causa perplexidade. Ao vivo, sem nenhum pudor, o agressor comete o crime e ninguém da produção é capaz de interromper. Pior, nas oportunidades seguintes conduzem uma tragédia de narrativas deixando margem para fazer da vítima a culpada pelo ato.

Mulheres precisam de mais espaço em todos os lugares. Para mudar, para melhorar e tornar uma sociedade mais igual em força e respeito.

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