Viajando de moto você vê a paisagem; de moto, você faz parte dela. (frase de autor desconhecido)
Se no trânsito cada pessoa ferida importa, se o objetivo é ter zero mortes, considero importante se preocupar com os maiores feridos e mortos envolvidos em sinistros nas vias urbanas de Blumenau.
Conversando com meus pares, que inclusive já sofreram sinistros de motocicleta, e percebendo que o caminho dessa maneira de deslocamento é aparentemente definitivo no Brasil, somos um país da moto também, seja pelo custo, eficiência, prazer ou necessidade, nos cabe pensar como tornar esse veículo seguro.
Sempre tive a tendência, como a maioria das pessoas, de achar a motocicleta um veículo perigoso, onde qualquer tombo poderia acarretar em sequelas. Mas não nos cabe mais essa reflexão, tendo em vista que esse é um veículo que está aí e vai ficar. Então, como torná-la completamente segura?
Blumenau registrou até o momento 20 mortes em 2025 no trânsito, sendo 17 de motos, 2 pedestres e 1 ciclista.
Sempre escutei inúmeras frases direcionadas aos motociclistas, que bastaria dirigir defensivamente, ou que na moto nada depende do motociclista, que o capacete é o para-brisa da moto e assim por diante, sempre transformando a moto e o motociclista em atores passivos de tudo que ocorre no trânsito.
Olhando para Blumenau, e principalmente de cima da motocicleta, ela não é uma cidade hostil, é uma cidade que pede preparo. Há uma década atrás já havíamos feito uma análise onde a maioria dos motociclistas acidentados não tinham muito tempo de habilitação em motocicleta nem muita experiência. A maioria dos sinistros acontecia com motoristas experientes no automóvel, mas que, em determinado momento, haviam decidido trocar as quatro rodas por duas rodas e seu conhecimento e habilidade não estavam prontos para a moto.
Quem pilota pelas ruas de Blumenau aprende logo que o trânsito é vivo. Conversões acontecem repentinamente, o fluxo muda, motoristas ficam desatentos sem ao menos indicar a direção, o asfalto apresenta chuva, óleo e sujeira, e as pessoas cometem erros. E isso vai continuar a acontecer, então isso não transforma a cidade em um lugar perigoso por si só, mas deixa claro que a motocicleta exige algo a mais do piloto: mais atenção, leitura e técnica.
Pilotar bem começa pela percepção aguçada e pela previsão constante. Não é apenas enxergar o veículo à frente, mas compreender o que pode acontecer nos próximos metros. A antecipação transforma sustos em decisões e cria espaço para agir com segurança. A moto responde rápido quando o piloto está preparado.
Esteja sempre ativo, sempre pense que tudo vai dar errado.
Frear em Blumenau também é exercício de equilíbrio. Ruas lisas, faixas pintadas e desníveis fazem parte do cotidiano, e é justamente aí que a técnica aparece. O uso correto e combinado dos freios traz estabilidade e controle, mostrando que segurança não depende de força, mas de sensibilidade e treino.
Usar os dois freios dá maior estabilidade. Não esquecer de deixar a sustentação nas pernas: só a parte de trás prolonga demais, só a da frente deixa a moto dura.
As curvas da cidade ensinam outra lição importante: a motocicleta acompanha o corpo. Braços leves, postura correta e peso bem distribuído permitem que a moto faça exatamente o que foi projetada para fazer. Não se trata de velocidade, mas de controle. Quem aprende isso passa pelas curvas com naturalidade e confiança.
Quem faz a curva é o seu corpo, e não o seu braço.
Com o tempo, o motociclista entende que estar bem posicionado faz diferença. Pés firmes na pedaleira, pernas sustentando o corpo junto ao tanque e braços livres tornam frenagens e desvios mais suaves. Pequenos ajustes no guidão e nos manetes melhoram a resposta e reduzem o cansaço, aumentando a segurança.
Não colocar o peso do corpo no guidão; use o peso no tanque com as pernas; não deixar o peso ir para a frente da motocicleta.
Cuidar do carro é bom; na moto é obrigação. Manutenção em dia, pneus calibrados e freios revisados transformam a moto em uma aliada confiável.
Talvez a maior lição de pilotar aqui seja entender que segurança não nasce do acaso. Ela vem do aprendizado constante. Treinar, buscar conhecimento, aperfeiçoar a técnica e usar equipamentos de proteção não são exageros; são escolhas conscientes de quem quer continuar pilotando amanhã.
Vista do guidão, Blumenau é uma cidade que ensina e necessita que o motociclista pratique, treine e esteja sempre ativo, não cabe momentos de distração e despreparo.
A motocicleta, quando bem pilotada, não é um risco é uma responsabilidade bem assumida.
Com o trânsito não se brinca.
Lucio R. Beckhauser, Agente de Trânsito, Especialista em Direito de Trânsito
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