
Este é o título desta nova coluna, que pretende trazer reflexões sobre o trânsito — um tema que, embora esteja presente em nossas vidas todos os dias, quase sempre passa despercebido quando se trata de decisões que poderiam realmente melhorar a nossa convivência.
Parafraseando o famoso lema da Costa Rica, Pura Vida, a proposta aqui é lembrar que o trânsito, assim como a vida, carrega em si uma essência enraizada, natural. Afinal, não existe vida sem trânsito. Desde sempre, o ser humano precisou se deslocar, e organizar esses deslocamentos tem sido um desafio constante. No passado longínquo, com caminhos primitivos, sem veículos e praticamente nenhuma tecnologia; hoje, com problemas diametralmente opostos.
Se antes enfrentávamos a falta — de infraestrutura, de meios, de segurança — hoje lidamos com o excesso: excesso de pessoas, de veículos, muita tecnologia, e, muitas vezes, principalmente nos centros urbanos, pouca evolução em eficiência e na redução de riscos.
A sensação é que, a cada dia, o trânsito parece estar pior, mais caótico, mais perigoso. Mas será que precisa ser assim? O que podemos — cada um de nós e todos juntos — fazer para mudar essa realidade?
E Blumenau tem solução? Quais seriam?
Mais vias? Menos carros? Melhorias no transporte público? Mais ciclovias? Incentivo ou regulamentação à micromobilidade? Mais semáforos? Ou, simplesmente, mais educação para os condutores?
Esta coluna nasce para provocar essas perguntas e buscar, juntos, caminhos possíveis. Porque, no fim das contas, a vida é puro trânsito — e só podemos vivê-la melhor se soubermos nos mover melhor.
Estar no trânsito deveria ser um momento quase inócuo do nosso dia. O trânsito não é um resultado, é apenas um meio para um fim. Ninguém sai de casa com o objetivo exclusivo de “transitar”; o objetivo sempre é chegar ao destino. Às vezes é justamente como fazemos esse percurso que determina se teremos um dia bom ou ruim, se trará soluções ou dores de cabeça.
Sempre tenho dito em sala de aula que o trânsito deveria se comportar como um juiz num jogo de futebol: se estamos falando dele, é porque está ruim. Ele deveria ser neutro, quase invisível — simplesmente funcionar.
Ter um trânsito seguro e eficiente não é um privilégio, não é um luxo, nem um favor que o poder público ou os motoristas fazem uns aos outros. Assim como ser honesto não deveria ser visto como uma virtude extraordinária, mas como um dever básico, ter um trânsito que flui e protege vidas é uma obrigação coletiva.
Diante deste meio social quase irrestrito, globalizado e amplamente misturado e homogêneo, talvez em nenhum outro lugar a sociedade se encontre de forma tão intensa quanto no trânsito. Pessoas de diferentes idades, comportamentos, classes sociais e até nacionalidades se cruzam, dividem o mesmo espaço, interagem — ainda que de forma silenciosa — todas com um único objetivo: chegar ao seu destino da maneira mais segura e eficiente possível.
Nos países com alto índice de desenvolvimento e elevado grau de educação, onde tudo é bem organizado, isso se reflete diretamente no trânsito. Afinal, o trânsito é, nada mais, nada menos, do que o reflexo da própria sociedade. Quer saber qual é o grau de educação e desenvolvimento social de um país? Observe o trânsito.
Alguns países já caminham há décadas anos-luz à nossa frente, seja por uma consciência coletiva mais desenvolvida, por respeito às regras e por um intenso debate público sobre os temas do trânsito e da mobilidade. Exemplos como Suíça, Suécia, Japão e Holanda mostram, há muito tempo, que a convivência harmoniosa entre os inúmeros modais de transporte — e a interação respeitosa entre as pessoas — traz resultados concretos: baixíssimos índices de vítimas no trânsito, ao ponto de alimentarem o sonho da Visão Zero, que propõe entre outros princípios que nenhuma morte no trânsito é aceitável.
Além disso, esses países avançaram também no outro extremo da eficiência, com tempos de espera mínimos, redução significativa da poluição sonora e atmosférica, trazendo uma melhora substancial na qualidade de vida das pessoas. Até mesmo a China, lembrada por um vídeo marcante de alguns anos atrás em que se registrou um congestionamento de cinco dias no retorno das férias em Hong Kong, mostrou que, com investimento e planejamento, é possível transformar um sistema caótico em um trânsito mais seguro, fluido e sustentável.
E nós, quando começaremos a tratar o trânsito como prioridade?
Diante dos desafios atuais e dos debates tão necessários em Blumenau, pretendo, a partir desta coluna, trazer à tona reflexões sobre temas que estão na pauta do dia: micromobilidade, fiscalização, a falta e até seus excessos, estacionamentos regulamentados, transporte coletivo, investimentos indispensáveis, comportamento dos condutores e deveres do poder público.
Quero fazer isso de uma forma próxima, usando exemplos vividos por mim — seja em sala de aula, como gestor de trânsito, como fiscalizador, condutor ou, simplesmente, como alguém apaixonado pelo tema. Tenho ouvido, ao longo dos anos, que Blumenau é uma cidade maravilhosa em muitos aspectos. E de fato é. Mas, quando o assunto é trânsito, é inegável que enfrentamos enormes desafios impostos por nossa geografia, pelo crescimento da frota e pela falta de soluções ágeis.
É urgente que comecemos a envolver todos — sociedade, gestores, técnicos e condutores — em um planejamento coletivo, capaz de construir um futuro em que o trânsito de Blumenau seja mais harmônico, seguro e compatível com a cidade moderna e acolhedora que queremos projetar para as próximas gerações.
Lucio R. Beckhauser, Agente de Trânsito, Especialista em Direito de Trânsito
A provocação é válida, educação é importante como a responsabilização dos gestores presentes passados por realizarem favores a poucos em detrimento de praticamente todos os munícipes. Exemplo? EDIFÍCIO AMÉRICA um elefante branco sob encomenda no rumo natural de continuação das ruas das Palmeiras. Então o estresse que hoje pressiona os motoristas é em grande parte provocado pelos gestores que deliberadamente deixaram de investir em obras necessárias. Napoleão um prefeito penalizado pelo “grupo” por querer colocar uma ponte alternativa junto a Rua Itajaí e a Ponta Aguda região esta que é um dos calcanhares de Aquiles do trânsito de Blumenau. Refletir direcionando a culpabilidade do motorista e o pedestre não é plausível quando outros problemas estruturais intencionais precedem a responsabilidade destes. Vamos refletir é salutar, analisar os dados de acidentes com responsabilidade e não achismos acadêmicos. Vimos muitos acidentes em que a imprensa já sai culpando o motorista de veículo por atropelamento quando vídeo mostra que o grande culpado é o pedestre ou motociclista que se coloca em risco causa acidente e é colocado como vítima. Precisamos acabar com hipocrisia do politicamente correto e lindo e partir para a frieza calculista da análise da situação e ensinar que o pedestre deve esperar o veículo parar antes de seja iniciada a travessia em faixa e não devanear com afirmações toscas e irresponsáveis do tipo “a faixa é preferência do pedestre, o veículo tem que parar” e outras aberrações acadêmicas e legislativas que não traduzem a vida real que respeita apenas uma lei básica a FÍSICA simples e natural. Sucesso pela nova coluna.
Parabéns, gostei muito da abordagem e também da relevância desse assunto.
Acompanharei os temas abordados por essa coluna.
Boa reflexão, e que venham mais para um trânsito mais seguro em Blumenau.