Opinião | A generalização está matando o país

Foto: Jean-Léon Gérôme, A Loucura da Tulipa (1882)/Divulgação

Eu não sei como a raiva nasce no coração de cada um dos homens. Talvez a ciência que estuda as emoções e comportamentos possa contribuir e decifrar de uma vez, com precisão, esta coisa que espalha, feito erva daninha, um punhado de ignorância mundo afora, que tropeçamos nas esquinas e cantões, hoje mais próximos de nós do que ontem. Por dedução, imagino que brota descuidadamente, quando em tempos de agruras a vida deixem escapar, entre feridas abertas, caindo em solo fértil, aquela sementinha ruim que precisa de pouquíssimas lágrimas, frustrações, lamurias, para a tristeza fazer regar e alimentar o crescimento de algo que não é bom. É então que este sentimento toma conta de todo ser, ganha frutos – podres – entre irmãos, murchando o florescer saudável de nosso jardim, da individualidade.

Penso que a raiva, o ódio, o rancor, tudo mais que se assemelham, seriam as dores de uma doença escondida, difícil de doutor algum diagnosticar. É um tipo de grito, que a baba escorre no canto da boca, trazendo mais escuridão para o desespero do enfermo cidadão afetado por causas genéricas colocadas em um mesmo balaio que tantas outras que afetam o discernimento coletivo.

Certo dia, ao correr o dedo em uma rede social, o app sugeriu uma postagem com o texto de um escritor japonês da década de 1940. Não recordo o nome ou a frase em perfeita descrição. Lá, fazia entender uma avaliação que para certos problemas humanos, como a dor, a generalização não faz bem algum, pois, cada sintoma e aflição exigem um tratamento distinto.

Evitar aplicar uma regra para o todo parece ser, para além das doenças, a maneira correta para diminuir as diferenças. Algo que precisamos urgente encontrar a formula, como um pesticida, aplicando fim para cada um dos pontos que impedem o florir de corações bons no país. Não sei por quanto tempo mais, sem romper com a generalização, o Brasil resistirá ao insano horror que alimenta este monstro distópico. Tratar todos igualmente como um só corpo joga mais adubo nesta loucura, sobre os problemas. “Cada caso é um caso”, já diz a sabedoria popular.

Para combater o ódio, a raiva, é preciso esvaziar cada uma das narrativas que colocam em uma mesma classe cada um que discordam de um pensamento. Na política, nos negócios, nas relações pessoais existem bons e duvidosos sujeitos. Nem todos os carecas são corruptos, como os cabeludos, em sua parcela, contam com aqueles indignos de confiança. Creditar aos grupos um mesmo rótulo faz parecer que o mundo segue unido no mesmo trilho, semeando uma só loucura.

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