Opinião | A economia da gambiarra no sapato velho

Foto: reprodução


Em 20 de julho de 1969, o americano Neil Armstrong se tornou o primeiro a pisar na lua. Passados 54 anos, se a coisa não anda boa nem nos Estados Unidos, imagine quem é “apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes”, como cantava Belchior.

Porém, a economia roda e quem esteve por baixo pode ficar por cima. Exemplo disso são as sapatarias, que ganharam sobrevida na pandemia porque, se o dinheiro diminui, as pessoas economizam consertando ao invés de comprar algo novo. Na prática, entre janeiro e abril, o Centro da Indústria de Couro do Brasil (CICB) registrou queda no preço por metro vendido de… 20,9%! Melhorou um pouco em junho, mas a diminuição de novos pedidos derrubou o preço do couro na indústria.

Este processo pode ser verificado também no lado do consumidor. De acordo com o Google Trends, há 10 anos, o nível de pesquisas na internet com a palavra “sapateiro” era metade do verificado em 2017, quando a economia brasileira já sofria com a crise política. Passados mais cinco anos, em junho de 2022, verificou-se o maior número de citações sobre o tema. Nos últimos 12 meses, as principais pesquisas envolvendo a palavra “sapateiro” foram: “sapataria perto de mim”, “sapateiro mais próximo”, “cola de sapateiro onde comprar” e “conserto de sapatos”. Fica a percepção de que, quando sapato novo vira supérfluo, a vida não está fácil para ninguém.

Um pequeno passo para o homem? 

Diante do preço dos combustíveis, haja conserto de sapato para quem tem andado mais a pé que de carro. Entretanto, como se fosse brisa fresca em dia de calor, a queda no Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias (ICMS) já chegou aos postos e, além deste alívio temporário, a Petrobrás anunciou desconto de mais 20 centavos no litro da gasolina. A boa notícia tem a ver com o compromisso da Rússia em manter o fornecimento de gás para a Europa, pelo menos por enquanto. E tudo segue assim, provisório: a pandemia melhora no Brasil, mas junho foi o mês com mais casos de Covid desde fevereiro. Lá fora, dia 16, um navio americano navegou em águas disputadas pela China, levando à troca de farpas entre os dois países. E em meio a tanta confusão criada na pandemia, os países improvisam para segurar os preços.

Como os esforços do governo ajudam agora, mas podem desestabilizar ainda mais a economia no futuro, resta seguir com a vacinação e torcer pelo fim da guerra na Ucrânia. Deixa o Brasil com seus próprios problemas. Ainda vai se gastar muita sola de sapato para encerrar essa longa crise, que é como uma nuvem chovendo sem parar… desde 2015.

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