O Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina (IFFSC), projeto coordenado pela Universidade Regional de Blumenau (FURB) desde 2007, tem empregado novas tecnologias para ampliar o conhecimento científico sobre as florestas catarinenses. Desde janeiro deste ano, os pesquisadores estão usando drones equipados com sensores de alta resolução para sobrevoar algumas das parcelas mapeadas pelo Inventário. Os dispositivos foram adquiridos com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) e são equipados com sensores LiDAR, tecnologia que usa pulsos de laser para realizar medições e criar mapas tridimensionais de alta precisão. Alexander Vibrans, coordenador do projeto, explica que, além de ver a superfície da floresta, os sensores são capazes de penetrar no seu interior, o que amplia a gama de dados possíveis de serem coletados pelos pesquisadores. A partir dessa tecnologia, será possível, por exemplo, melhorar as estimativas de biomassa e carbono estocados na floresta.
Também com recursos provenientes da Fapesc, o projeto adquiriu um espectrômetro portátil, dispositivo capaz de identificar, entre outros aspectos, o perfil individual de folhas secas dispostas sobre o solo, registrando uma espécie de impressão digital da estrutura da folha. Esse processo permite criar uma biblioteca de registros que pode ser usada para facilitar a identificação de plantas presentes em outros ambientes. Os pesquisadores pretendem, ainda, usar tecnologias de realidade aumentada para fortalecer a divulgação dos resultados do projeto e fomentar o interesse dos jovens pelas florestas.
Também conhecido como “Censo das Florestas”, o projeto realiza medição de árvores em campo e mapeamento da cobertura florestal no Estado. Atualmente, os pesquisadores realizam o terceiro ciclo de medição do Inventário e trabalham na atualização dos dados relativos ao mapeamento da cobertura florestal. Vibrans ressalta que nenhum outro lugar do país conhece tão bem suas florestas como Santa Catarina. “Entrevistadas” pelos técnicos do Inventário, as florestas catarinenses contam uma história de resiliência e renovação: são amplas, jovens, ricas em biodiversidade e estão em franco crescimento.
Índice de cobertura florestal chega a quase 50%
O mapeamento revelou que 38% do Estado é coberto por florestas, índice superior ao mínimo preconizado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), que é de 30%. Se consideradas as áreas de reflorestamento (que cobrem pouco menos de 10% do Estado), o índice de cobertura florestal chega a 48%. Vibrans explica que o pico do desmatamento no Estado ocorreu durante a década de 1950, com a expansão da agricultura e o desenvolvimento econômico. Desde então, muitas áreas passaram por um processo de regeneração que resultou na existência de florestas predominantemente jovens, com cerca de 70 anos de idade, ainda em crescimento. Dados coletados pelo Inventário revelaram que as florestas do Estado abrigam um estoque de biomassa de 100 toneladas por hectare, que cresce de 1,2 a 1,4% anualmente.
O pesquisador explica que esse tipo de floresta, chamada de secundária, é capaz de absorver grandes quantidades de carbono, já que crescem em ritmo acelerado. Ao contrário da floresta amazônica, as florestas catarinenses não são fontes de gás carbônico: “a floresta amazônica, por causa do desmatamento e das queimadas, é hoje uma fonte de CO2 atmosférica. Ela também fixa muito, mas o desmatamento faz com que esse balanço seja negativo. Em Santa Catarina, é o contrário, nossas florestas fixam mais do que produzem”, explica Vibrans. O processo de fixação de carbono é crucial para o enfrentamento das mudanças climáticas, motivo pelo qual as florestas são consideradas recursos estratégicos para governos de todo o mundo. Além da cobertura florestal e de sua grande capacidade de fixação de carbono, o pesquisador destaca, ainda, a ampla biodiversidade das florestas catarinenses, que abrigam mais de 800 espécies, entre árvores e arbustos.
Como os dados do Inventário são coletados
A coleta de dados para o Inventário é realizada de duas formas: em campo e por meio de sensoriamento remoto. As florestas catarinenses são medidas por processo de amostragem em 1.074 parcelas, 500 delas em campo e as demais por imagens de satélites. Equipes compostas por quatro técnicos visitam cada uma das 500 parcelas, identificam e medem o diâmetro e a altura de todas as árvores localizadas no interior da parcela, além de coletar informações como a existência de plantas férteis e registrar as coordenadas geográficas de cada uma das árvores, para poder localizá-las nas medições futuras. Cada uma das parcelas corresponde a uma área de 4.000 m² e contempla, em média, 230 árvores. A medição de cada uma das parcelas em campo leva de um a três dias de trabalho para ser finalizada. Com base nos dados coletados, os pesquisadores calculam o estoque de madeira e biomassa e identificam a estrutura, a diversidade e a composição das florestas do Estado. A partir do segundo ciclo de medição, passaram a estimar, também, taxas de crescimento e mortalidade.
Sobre o Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina
Coordenado pela FURB, o inventário catarinense começou a ser realizado em 2007, seguindo metodologia compatível com a definida nacionalmente, mas adotando maior detalhamento na coleta e análise dos dados, o que colocou o Estado na vanguarda da medição de florestas no país. O primeiro ciclo de medição foi finalizado em 2011 e teve seus resultados publicados em sete volumes. Entre 2014 e 2019, os pesquisadores repetiram a medição, cujos resultados também já foram analisados e publicados. O terceiro ciclo de medição teve início em 2022 e deve ser finalizado até 2027. A constância das medições é importante para que os pesquisadores possam conhecer a dinâmica das florestas e avaliar questões como crescimento e regeneração das árvores identificadas.
Em 2016, o grupo coordenado por Vibrans obteve financiamento específico do Governo do Estado para realizar um mapeamento preciso da cobertura florestal do Estado com o objetivo de gerar dados para gestão territorial e licenciamento ambiental para uso dos municípios catarinenses. O trabalho, que utiliza imagens de satélites, levou quatro anos para ser concluído e está em processo de atualização.
Os trabalhos do Inventário envolvem atualmente oito professores da Universidade Regional de Blumenau (FURB), além de alunos de graduação e pós-graduação e técnicos contratados para o trabalho de campo. Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) realizaram o levantamento genético das espécies, enquanto a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) foi responsável por executar um levantamento socioambiental por meio de entrevistas com produtores rurais.
Todo o material produzido a partir dos dados do Inventário pode ser acessado por pesquisadores e público em geral por meio do site floresta.sc.gov.br.
FURB Pesquisa
O Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina foi tema do programa FURB Pesquisa desta semana e estará disponível no Youtube da FURB a partir das 15h30 desta sexta-feira (16).
Fonte: FURB
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