Eleições, violência e adjetivos

Arte: Informe Blumenau

Por Jairo Demm Junkes

Professor universitário

Estas eleições têm tornado evidente algumas características da sociedade pós moderna no Brasil. O fenômeno das mídias e redes digitais, tornou possível que todos os brasileiros tivessem acesso a um meio de expressar suas opiniões.

A janela que se abre para demonstrar como o nosso cidadão age, ou pode agir quando pode ter a seu favor uma sensação de impunidade causada pela falta de contato pessoal com as pessoas que estão na outra ponta.

Já era conhecido o poder de desinformação das chamadas Fake News, onde recebemos informações sem referência, ou referenciada de forma fraudulenta, atribuindo a autoria a outros autores, geralmente conhecidos, e o pior, muitas vezes, em um modo de piloto automático, uma reação quase involuntária, ainda passamos estas mensagens adiante.

Se já não bastasse o evidente acima citado, o período eleitoral tem demonstrado como nossa população é despreparada para lidar, tanto com a tecnologia, quanto com o processo democrático, fazendo com que chovam a ponto de gerar um dilúvio de ignorância, através das Fake News, e das agressões verbais que passam a ocorrer no universo virtual.

Pôde-se perceber grupos de Whatsapp familiares, ou de trabalho, tornarem-se verdadeiro campos de batalha, onde reina o conceito do “eu estou certo e quem discorda de mim é um imbecil” tornando claro não somente uma ortodoxia de opinião, como uma total incapacidade de grande parte da nossa população em lidar, de maneira democrática e civilizada, com a opinião alheia.

Chegou-se ao descalabro de, estas interpretações equivocadas e desinformadas do universo virtual, refletirem na práticas das pessoas em seu meio de convívio, como já comentado, nos grupos familiares, pessoas deixando de conversar com seus parentes por preconceito acerca da opinião partidária, colegas de trabalho de longa data, a ponto de se considerarem amigos, deixarem de conversar pois acreditam que sua opinião está errada, com base no “eu estou certo, pois tenho contato com um sem número de grupos de Whatsapp, tenho além de centena de pessoas nas minhas outras redes sociais e, por isso, sou esclarecido, e, por consequência, quem de mim discorda está desatualizado, preso a sua ignorância (momento para o qual, frequentemente emprega-se o adjetivo burro)”.

Sou professor e vejo esta situação acontecendo diária e intensamente com meus alunos, onde muitos, deixam de conversar com colegas pelo simples fato de terem mais simpatia por determinado candidato, e por conta disso, passam a adotar uma conduta hostil contra as opiniões que lhe são diferentes. E os nossos governantes, bem como os candidatos a lhes sucederem, tem uma interferência direta nestas relações, a ponto de muitos alunos, passam a comparecerem à escola com camisas fazendo apologia a determinado candidato, fazendo alusão violência (camisas cujos pontos de venda multiplicam-se de maneira impressionante). Neste momento, onde está o bom senso dos candidatos, do que defendem a famosa bandeira da “escola sem partido”, e mais, onde está o discernimento dos pais que, alegam que o uniforme da escola é muito caro (uniforme este que é uma forma de segurança, onde torna-se mais rápida a identificação de indivíduos estranhos na escola), mas não demonstram nenhuma oposição a vestimenta que, não somente emite uma opinião de maneira agressiva, como também atrai para si a violência dos “outros sábios” que discordam de sua opinião.

Muito comenta-se em reforma política, em partidos e candidatos que não nos representam. Mas, e o que nós como cidadão estamos fazendo com nosso papel na construção de uma sociedade mais justa e igual? Será que a truculência da maneira de argumentar, a ignorância as opiniões diferentes, bem como a adjetivação das outras pessoas, pelo simples fato de terem uma opinião diferente, torna a nossa sociedade melhor? Será que esta é a melhor forma de lidar com uma sociedade que sempre foi considerada rica pela sua diversidade?

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