Opinião | Dignidade aos povos originários

“Dezembro vai, janeiro vem. O tempo passa veloz como um trem. No rádio, a notícia: um amigo se foi, atrás dos mistérios que sempre buscou”, Almir Sater/ Renato Teixeira/ Paulo Simões

Parece que guardamos no Brasil, para períodos distintos, uma reserva de barbáries, esta coisa brutal que esfacela o coração. Pessoas más, temo, não esgotam a capacidade de criar momentos, situações e dores para espezinhar a paz, o amor, a vida. Fico a imaginar do que é feito o homem capaz de largar, lúcido do que está praticando, um irmão para desgraça da morte, de todo sofrimento abraçando ao inferno, com um caloroso desejo de destruição. Juro não compreender a coragem destes que conscientemente praticam um ato, movem um mínimo papel que seja, gerando o desague em sangue, diminuição do outro, extinção de um caminho. Será que algum dinheiro, riqueza que for, compensa tanta maldade?

O padecimento de indígenas com fome e/ ou uma série de doenças é o retrato mais forte do profundo abismo medieval, de quando a falta é de civilidade, que marca o momento que nação mergulhou. O país, por meses, derramou atenção para diferenças profundas em um punhado de coisas que nem fazem sentido para o dia de milhões de cidadãos. Ao tempo, também fechou os olhos e ouvidos para a destruição das florestas, para a fome na mata e nas ruas, para a saúde de cada um.

Quem é o verdadeiro selvagem? Seriam os indígenas que tiveram suas terras roubadas ou um bando que defende o extermínio dos povos originários? Quem é o inflexível? Os moradores das florestas, que reivindicam a devolução de suas terras griladas, ou o Estado representado por governos, como o de Santa Catarina, que deseja reprimir e apagar, por exemplo, os Xoklengs da história?

É sempre importante reforçar: de tempos em tempos a barbárie ganha destaque no Brasil. Em 1997 um indígena foi brutalmente assassinado, queimado vivo, em Brasília. Longe da era das redes sociais, o país foi dominado por longas e tristes discussões sobre o tema. Tantos anos depois, com o mesmo espanto, os povos que deram origem a todos os brasileiros ganham destaque novamente, sofrendo, lutando, pedindo socorro para continuar a existir, quem sabe ver demarcados os seus espaços, vencendo o marco temporal.

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