Opinião | “A guerra que mantém o povo refém: brancos no poder não querem paz entre Lula e Bolsonaro”

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A imprensa tem papel central em desnudar as farsas do poder, e o artigo do jornalista Alexandre Gonçalves, no Informe Blumenau, é prova disso. Ele mostrou de forma clara que não existe vontade política real para um “distensionamento” — essa paz de mentira que governadores, prefeitos e lideranças gostam de pregar em discurso, mas jamais praticam. O caso da Policlínica Regional é emblemático: uma briga de território político que vira manchete, mas não resolve a saúde de ninguém.

Temos o governador Jorginho Mello (PL) dizendo que “o PT mandou para Indaial”. Ou seja: politizando descaradamente algo que poderia ser resolvido com diálogo e planejamento público decente. Briga, acusações, provocação barata — todos veem palanque, não gestão. A polêmica sobre os terrenos que Blumenau ofereceu e Indaial aceitou serve apenas para atiçar fogueira, não para construir saúde para as pessoas. E quem está no poder branco, em posição confortável de classe, adora isso. Porque o conflito distrai, divide e mantém quem está abaixo confuso entre “quem é o inimigo”. No fim, o povo é obrigado a escolher com a faca no pescoço entre dois lados que pouco ou nada fazem por ele, mas que brigam muito entre si.

E não é só na saúde. Basta olhar para Brasília: o Congresso, que deveria votar a isenção do Imposto de Renda para aliviar a vida da classe média e dos mais pobres, simplesmente engaveta o tema. Por quê? Porque salvar Bolsonaro de seus processos e sustentar a guerra política rende muito mais do que garantir um alívio real no bolso do trabalhador. Quando se trata de blindar interesses, eles correm; quando se trata de mexer em privilégios ou melhorar a vida do povo, o freio é puxado.

A elite política sabe que confrontação rende. Polarização dá mídia, votos de protesto e identidades fixas — “sou Lulista / sou Bolsonarista” — e, enquanto isso, quem lucra são sempre os mesmos: políticos, donos de influência, elite econômica e a própria imprensa que vive do sensacionalismo político. O povo quase nunca escolhe com liberdade. Escolhe com medo, com desconfiança, com a obrigação de mostrar lealdade. Enquanto isso, a saúde falha, a infraestrutura desmorona, o serviço público não funciona. Mas “voto útil”, “ameaça” e “inimigo” continuam sendo os slogans preferidos dos poderosos.

Não é coincidência que quem ocupa as cadeiras de comando no Brasil seja majoritariamente branco, com escolaridade, conexões e poder. Essa gente se aproveita desse jogo para manter seus privilégios intactos. Essa disputa constante entre partidos, ideologias e brigas fabricadas serve apenas para que a estrutura racializada e desigual do poder continue imutável. A branquitude no poder se deleita nesse conflito que parece visceral, mas nunca muda quem realmente manda.

E quem paga a conta é sempre quem depende de saúde pública, quem vive na periferia, quem não tem acesso fácil à justiça ou à educação de qualidade. São essas pessoas que têm a faca no pescoço. Se escolhem “A”, acreditam que terão saúde. Se escolhem “B”, pensam que a economia melhora. Mas no fim, ficam com promessas, propaganda e discursos vazios. É uma cilada cruel: obrigar o povo a escolher entre males diferentes e ilusões políticas, quando a estrutura do Estado pouco ou nada entrega.

Enquanto essa guerra bolsonarista x lulista for o motor da política brasileira, as estruturas de poder — brancas, elitizadas e feitas para favorecer quem já tem vantagem — continuarão no comando de tudo que importa. Saúde, justiça, dignidade e voz popular ficam em último plano. O tal “distensionamento” está distante porque, se viesse de verdade, enfraqueceria o espetáculo que mantém tudo como está. Se quisermos democracia real, é hora de exaurir esse jogo e parar de escolher com medo. O poder precisa, enfim, trabalhar para quem sempre foi colocado à margem.

Marco Antônio André, advogado e ativista de Direitos Humanos

2 Comentário

  1. Concordo com parte do texto do Sr. Marco Antonio, mas não tem nada haver com branco ou preto , nada tem com pre conceito de cor .
    “Pão e circo” (Panem et circenses) é uma expressão de origem na Roma Antiga que descreve a política de oferecer à população, principalmente à plebe, comida e entretenimento (lutas de gladiadores, corridas de bigas e espetáculos) para distraí-la, apaziguá-la e mantê-la afastada de questões políticas, evitando revoltas e consolidando o poder dos governante .
    Passaram-se os anos e continuamos com Panem et circenses, independente de ideologia de esquerda ou direita , na política do Brasil não existe lado, existem interesses, muitos deles obscuros .

  2. Devemos discutir Política e Religião a despeito do oposto que SEMPRE foi pregado. Quantas vezes discutimos política na patota de futebol ou no churrasco entre amigos? Nos furtamos da evolução crítica e temos medo de ouvir o outro. Tentam nos convencer que que grupos são oprimidos quando na verdade somos todos um só povo e este é oprimido, roubado, etc. Rubens está certo em colocar colocação.

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