Opinião | Competitividade catarinense e neoevolucionismo

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No senso comum sobre o desenvolvimento, as abstrações do imaginário popular engendram países com grandes territórios, recursos naturais e densas populações. Ultrapassada, todavia, a megalomania urbano-industrial do século XX, já compreendemos esse processo de modo menos determinista. O paradigma reside na sinergia de fatores culturais e institucionais num processo contínuo de adaptação. Essa é a perspectiva contemporânea do neoevolucionismo, em que a prosperidade não tem caminho único, resulta de interações entre tecnologia, cultura, capital humano, instituições e capital social. Essa perspectiva a Santa Catarina se aplica.  

Com 1% do território nacional e aproximadamente 4% da população brasileira, o estado emplaca os melhores índices do País, apesar do escasso retorno tributário da União. O ranking de Competitividade dos Municípios e dos Estados, do Centro de Liderança Pública – CLP, revela isso: entre as 50 cidades mais competitivas do Brasil, sete são catarinenses — o que representa 14% do total, desempenho que só perde para São Paulo, que, com dimensão incomparável, emplaca 29 municípios. Entre as 100 cidades mais competitivas do País, 11 são catarinenses.

Veja-se a classificação de cada uma no ranking nacional:

1º  Florianópolis
12º  Jaraguá do Sul
14º  Blumenau
20º  São Bento do Sul
23º  Criciúma
34º  Balneário Camboriú
44º  Joinville
51º  Chapecó
62º  Concórdia
69º  Itajaí
78º  Brusque

E, logo, outros começarão a aparecer.

Para entender esse desempenho, não basta olhar para o Produto Interno Bruto, nem mesmo o per capita. Na metade do século XX, ainda se afirmava que as sociedades evoluem acumulando capacidades técnicas e organizacionais. Não é errado, mas insuficiente pensar assim. Atualmente, o neoevolucionismo (ignorado na literatura sociológica brasileira) reconhece a capacidade de integrar capital humano e capital social em torno de instituições sólidas. É isso que diferencia regiões desenvolvidas de outras estagnadas. Tudo que a Sociologia deveria nos ensinar, a partir desses conceitos elementares, mas ignora por questões ideológicas.

Santa Catarina se encaixa nesse paradigma, por meio de uma intercalação de fatores que se retroalimentam: uma ética do trabalho e empreendedora oriunda da sua colonização, alto nível de capital humano e capital social, formando ciclos de cooperação sistêmica, inovação e competição. Com o perdão da insistência, esse é o pressuposto neoevolucionista. Se estivéssemos pesquisando isso estrategicamente nas universidades, estaríamos potenciando as qualidades e nos preparando para um futuro que, por ser um estado brasileiro, Santa Catarina periga virar mais um São Paulo da vida, rico, desigual e violento. 

Conquanto teorias como o tal “decolonialismo” sugerem negar, nosso processo colonizador é a origem disso. Além da decisão de Dom Pedro II de colonização pela pequena propriedade, o “déspota esclarecido” incentivou a vinda de colonos detentores de técnicas agrícolas e produtivas, e valores como disciplina, cooperação e associativismo. A herança são cooperativas agrícolas fortes, uma malha de pequenos e médios empreendimentos dinâmicos e disposição para inovar. Temos o maior número de cooperados do Brasil (cerca de 40% da população), cerca de 30% do PIB relacionado à indústria, e o terceiro empregador no setor de TI, atrás de SP e MG.

Ainda há muito que refletir sobre os desafios do desenvolvimento, de SC e do Brasil. Entre mil coisas, cinco vale afirmar e inspirar novos artigos: 1) não há caminho único para o desenvolvimento; cada sociedade precisa potenciar suas vantagens preexistentes. 2) não obstante, há, sim, fatores em comum, que qualquer sociedade pode mimetizar, desde que seja capaz de dar vida a esses fatores. 3) essas duas coisas são o que as universidades catarinenses e brasileiras deveriam ensinar em disciplinas das humanidades. 4) não o fazem por ignorarem o neoevolucionismo e o ignoram por preconceitos inúteis, a exemplo da tal teoria decolonial; 5) por isso, certas teorias são inaplicáveis em certos contextos. 

Tudo isso é assunto de próximas crônicas, pra, bem no fim, nos perguntarmos: O que, sendo um estado brasileiro, seremos em 25 anos? Manteremos a qualidade de vida das nossas cidades, ou a violência resultante de um crescimento desordenado nos transformará na regra brasileira?

Walter Marcos Knaesel Birkner, sociólogo, autor de Sociologia produtiva: BNCC, Desenvolvimento e Interdisciplinaridade – Editora Arqué – Fpolis

1 Comentário

  1. Ainda com um retorno tributário pífio, digno de vergonha desse governo nacional, somos o melhor estado do país! Que seguimos evoluindo mesmo assim! Com a migração cada vez maior, todos são bem-vindos, que venham para somar! Caso tenham intenções foras da lei, a polícia está aí para garantir a normalidade!

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