O blumenauense criou um estigma muito comum: ao se deparar com um local de trânsito ruim, a primeira coisa que vem à cabeça do condutor é — “Só podia ser o guardinha atrapalhando.”
Uma coisa é certa: se em Blumenau existir um problema no trânsito, teremos um agente no local. Esse pensamento reflete, na mais pura ingenuidade, a ideia de que os problemas no trânsito estão ligados à única pessoa que está ali com a missão de resolver a situação.
Também é óbvio que, se tudo funcionar bem no trânsito, a presença do agente será desnecessária. No trânsito ideal, sem nenhuma anormalidade, não precisamos de interferência humana para garantir fluidez e segurança; basta que o planejamento do local funcione para termos um tráfego adequado.
Então com trânsito ruim teremos agente de trânsito, com trânsito bom não.
A intervenção do agente de trânsito só ocorre se houver algum problema no local e, nesse quesito, essa percepção diferencia Blumenau de outros municípios. Inclusive, somos privilegiados por ter essa percepção: sempre que há uma situação ruim nas vias, temos um agente de trânsito no local.
Blumenau conta atualmente com aproximadamente 115 agentes municipais especialistas em trânsito. Considerando uma população de cerca de 380 mil habitantes, 290 mil veículos registrados e em torno de 250 mil condutores habilitados, tem-se uma média de mais de 3.000 pessoas para cada agente. Dizem que a recomendação da ONU é de 1 para cada 1.000.
Cabe lembrar que, por força legal, o agente da autoridade de trânsito tem o dever de priorizar suas ações na prevenção e repressão das infrações, tratando a todos com urbanidade e respeito, sem, contudo, omitir-se das providências que a lei determina. Sempre que possível, a orientação deve preceder à autuação, funcionando como instrumento pedagógico para evitar que o condutor incorra em erro.
Nesse sentido, a segurança viária só pode ser alcançada por meio de três pilares complementares: a Educação, a Engenharia e o Esforço Legal.
Tendo essas considerações em vista, ao mudar o olhar do observador para a visão do agente de trânsito que está no local comprometido com a segurança e, na medida do possível, com a fluidez, a perspectiva se inverte completamente.
Enquanto muitos condutores parecem alheios a colaborar, o agente lida com situações criadas por motoristas que mais atrapalham do que ajudam.
Nos acidentes, por exemplo, mesmo após enfrentarem uma longa fila, é comum ver motoristas que, sem motivo algum, estacionam o veículo para observar, reduzem a velocidade não por segurança, mas por pura curiosidade, ou ainda param para perguntar o que aconteceu. E depois reclamam do trânsito.
No caso de fechamento de vias, depois de atravessar uma enorme fila para chegar até o agente, em vez de simplesmente seguir a orientação dada, muitos motoristas param diante dele para perguntar: “E agora, o que eu faço? Para onde eu vou?” — ao que, inevitavelmente, vem o pensamento do agente: ué, se você não sabe para onde quer ir, como eu, que estou aqui o tempo todo, vou saber?
Eu diria que a única informação possível do agente é saber para onde o condutor não vai; mas para onde vai, isso é com o próprio condutor. Essa circunstância nos remete à frase do Gato em Alice no País das Maravilhas: “Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.”
Depois de dezenas de motoristas repetindo os mesmos questionamentos, o trânsito só piora. Nessas horas, a melhor solução para o agente é não dar conversa, porém será visto como arrogante. Mas a intenção é focar em orientar o fluxo com o objetivo de melhorar a fluidez, e minimizar o impacto.
Entre tantas situações cotidianas no trânsito, lembro de uma corriqueira no cruzamento da rua Paulo Zimmermann com a rua 7 de Setembro. Ambas as vias estavam congestionadas, mas a rua Paulo Zimmermann, naquele momento, necessitava de prioridade, pois o trânsito refletia em outras vias e causava transtornos pela cidade.
Depois de algum tempo organizando o fluxo, finalmente comecei a ver o fim da fila na rua Paulo Zimmermann. Então, parei o trânsito da rua 7 de Setembro para liberar novamente a Paulo Zimmermann.
Foi quando a condutora que estava à frente tentou arrancar o carro e este morreu. Após algumas tentativas, nada. Para evitar que tudo travasse de vez, voltei a liberar novamente a rua 7 de Setembro, deixando mais uma vez o fluxo da rua Paulo Zimmermann parado.
Quando percebi que ela conseguiu ligar o carro, liberei novamente a Paulo Zimmermann. E o que aconteceu? O mesmo problema. Três vezes seguidas.
No fim, precisei ajudar a empurrar o veículo até o estacionamento ao lado. Nesse meio-tempo, as filas cresceram outra vez na Paulo Zimmermann, e já não via mais o fim dela.
Nessas horas, sempre me pergunto: quantos motoristas que passaram por ali, diante daquele trânsito caótico, ao verem o agente de trânsito, não pensaram consigo mesmo — “Só podia ser o guardinha atrapalhando…”
Com o trânsito não se brinca.
Lucio R. Beckhauser, Agente de Trânsito, Especialista em Direito de Trânsito
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Temos que ser justos, os servidores Guardas de Trânsito são importantes para o funcionamento do município assim como todos os fiscais. Temos ainda que lembrar que os servidores são SABOTADOS em suas funções pela classe política que vê nestes uma ameaça para sua imagem junto aos seus “investidores”, digo, eleitores. Porquê não vemos guardas agindo no trânsito para agilizar o fluxo em horários de movimento? Hoje foi possível verificar no fim da Alameda Rio Branco o fechamento de uma pista da Rua Hermann Huscher para atender a construtora de um edifício que está sendo construído em local no mínimo estranho porém guardas se posicionavam em frente ao Grêmio Esportivo Olímpico. Por mais que queiramos defender os profissionais fica difícil diante desta e outras aberrações, o povo não é idiota ele enxerga quando o corpo mole faz presença a despeito de justificativas corporativas. E o Edifício América que é um dos nossos problemas quando será construída a ponte em seu lugar????
Concordo com leitor Paulo no que refere-se nesta data no final da rua Hermann Huscher …Trânsito bloqueado para satisfazer uma construtora que não deixou lugar no terreno para que os caminhões descarreguem e vi dois agentes de trânsito na Alameda , no mínimo a 100 metros do local .
Porque o SETERB autoriza fechamento de uma pista no horário de pico ?