Ao longo dos últimos dois séculos, os Estados Unidos consolidaram-se como a principal usina de inovação do planeta. Do modelo de produção em massa de Henry Ford, passando pela corrida espacial e chegando à revolução digital e à economia da inteligência artificial, as grandes transformações tecnológicas nasceram em solo americano.
Esse protagonismo não é fruto do acaso, ele se apoia numa engrenagem eficiente que junta governo, universidades e empresas, permitindo que ideias se transformem em negócios de impacto global. Microchips, internet, biotecnologia, foguetes reutilizáveis, tudo isso surgiu num ecossistema que valoriza liberdade econômica, talento e capital de risco.
Nomes como Steve Jobs (Apple, responsável por transformar a forma como usamos tecnologia pessoal), Bill Gates (Microsoft, que levou computadores e softwares para lares e escritórios do mundo inteiro), Jeff Bezos (Amazon, que revolucionou o comércio e a logística), Larry Page e Sergey Brin (Google, que mudou a forma como buscamos informação), Mark Zuckerberg (Meta/Facebook, que conectou bilhões de pessoas) e Elon Musk (Tesla e SpaceX, que lideram a revolução dos carros elétricos e da exploração espacial) não apenas criaram empresas gigantes, eles mudaram a forma como fazemos negócios, nos comunicamos, consumimos e até como enxergamos o futuro.
E a inovação mais recente e transformadora também veio dos Estados Unidos. A inteligência artificial generativa, da qual o ChatGPT é o exemplo mais conhecido, foi desenvolvida pela americana OpenAI e hoje é apoiada por gigantes como a Microsoft. Google, Meta e outras empresas americanas também estão na linha de frente dessa corrida, enquanto a China corre atrás com investimentos bilionários em IA. A Europa, mais uma vez, aparece como espectadora. Esse detalhe mostra que a revolução tecnológica que estamos vivendo não nasceu em Bruxelas ou Berlim, mas no Vale do Silício.
Esse dinamismo contrasta com a trajetória da União Europeia. Em 2008, o PIB nominal dos Estados Unidos e da Zona do Euro estavam no mesmo patamar, cerca de 14 trilhões de dólares cada. Pouco mais de uma década depois, o descolamento é impressionante. Enquanto os EUA já ultrapassam os US$ 30 trilhões, a União Europeia mal chega a US$ 20 trilhões.
Segundo dados do Econofact, em 2008 o PIB per capita europeu equivalia a 76% do americano, percentual que hoje não chega a 50%. De acordo com o Banco Central Europeu, entre 2019 e 2024 a produtividade do trabalho cresceu 12,4% nos EUA contra apenas 3,8% na zona do euro. A explicação me parece clara: burocracia, protecionismo e envelhecimento populacional drenam a energia do continente.
Um estudo recente do Elcano Royal Institute reforça esse quadro com números preocupantes. A Europa tem um mercado de serviços travado, comércio interno cheio de barreiras, pouco capital de risco e venture capital muito abaixo do americano. Em 2023, mais da metade dos mais de 2.700 unicórnios do mundo estava nos Estados Unidos, enquanto a Europa ficou para trás. O investimento em pesquisa e inovação é menor, e a digitalização das empresas, principalmente das pequenas e médias, anda a passos lentos. Faltam especialistas em tecnologia, e a formação de competências digitais não acompanha a demanda. Resultado: o hiato competitivo só cresce.
É fato, portanto que, o caso europeu é um alerta. A tentativa de preservar indústrias à força, sufocar o capital de risco e sobrecarregar o setor privado com regulações transformou o continente em um museu econômico.
Até mesmo a Alemanha, motor industrial da região, amarga quedas no PIB e enfrenta o peso do envelhecimento populacional. Como lembraram os economistas americanos W. Michael Cox e Richard Alm, ao comentar Joseph Schumpeter, Joseph Schumpeter, economista austríaco que mais tarde se naturalizou americano, o capitalismo é “o vendaval perene da destruição criativa”. Nesse processo, empregos desaparecem e indústrias ficam obsoletas, mas em troca surgem negócios melhores, tecnologias mais eficientes e padrões de vida mais altos. Sociedades que aceitam essa turbulência inevitável tornam-se mais produtivas e ricas.
No Brasil, infelizmente, seguimos mais parecidos com a Europa do que com os Estados Unidos. Burocracia, protecionismo, sistema tributário confuso e pouco investimento em pesquisa. Isso sem falar no fracasso do ensino, com escolas que não preparam para a economia moderna, e também na educação, que deveria começar em casa e formar cidadãos com valores sólidos. Essa combinação de ensino precário e educação falha cria um terreno fértil para o desperdício de talentos.
E como fica a China nesse tabuleiro global? Não podemos ignorar a ascensão acelerada do país, que em apenas uma década multiplicou investimentos em inovação e se tornou líder em setores como energia renovável, veículos elétricos, drones e inteligência artificial. Isso só foi possível porque o Partido Comunista direciona trilhões de dólares para estratégias de longo prazo, com metas obrigatórias e coordenação estatal que nenhum país democrático conseguiria reproduzir.
Vale lembrar, no entanto, que a China só alcançou esse salto depois de décadas crescendo sem se importar com o meio ambiente. As imagens de cidades cobertas por fumaça tóxica e rios contaminados ficaram famosas, embora muitas estatísticas permaneçam escondidas pela censura. Só recentemente, pressionada pelo descontentamento interno, Pequim adotou um discurso verde e passou a investir em energias limpas.
Esse caminho, além de autoritário, não cabe ao Brasil. Somos uma democracia, com instituições que precisam ser fortalecidas e modernizadas, e com uma sociedade civil que não aceita retrocessos ambientais. Mais do que isso, nossos ativos ambientais são parte da nossa vantagem competitiva, e não um obstáculo ao desenvolvimento.
Bem, a verdade é que os Estados Unidos prosperam porque inovam em ambiente de liberdade, a Europa patina porque protege e regula demais, e a China avança com planejamento autoritário e pouca transparência. O Brasil não pode copiar esse modelo, nem viver preso ao passado.
O nosso caminho é outro, abrir mercados, simplificar regras, investir em ensino e tecnologia, e criar um ambiente onde o empreendedorismo floresça sem sufoco burocrático. Só assim deixaremos de ser um país de potenciais desperdiçados para nos tornarmos, de fato, uma potência inovadora.
Jorge Amaro Bastos, economista e professor universitário





Já me conquistou com o TEMA…muito bom..também sou economista..
Maravilha Professor Amaro Bastos.
Isso e muito mais que necessitamos ler e aplaudir num periódico.
Aplausos.