Sabe aquele fenômeno onde se coloca um sujeito num pedestal e começa a tratá-lo como o salvador oficial da pátria? Pois é, essa é a tal “síndrome do herói da vez” — um complexo psicológico onde alguém busca ser visto como o golpista do problema para depois “resolvê-lo” e, assim, ganhar reconhecimento heroico, às vezes até criando a própria crise para parecer indispensável.
No Brasil de ontem, quem dava as cartas era o ex-juiz Sérgio Moro. Aclamado como o justiceiro incorruptível da Lava Jato, virou ídolo instantâneo de quem sonhava com uma política livre de sujeira. Mas bastou que o saber político incomodasse, ou que as alianças mudassem, e lá estava o mito desfeito — o herói de hoje já era tratado como oportunista e juiz seletivo.
Hoje, o crachá de herói mudou de endereço: agora está colado no ministro Alexandre de Moraes. Para alguns, ele é o “xerife da internet”, o juiz estrela que enfrenta bilionários e censura os vilões bolsonaristas — tudo em nome da democracia  . E as plaquinhas internacionais? A revista The Economist bateu o martelo: Moraes tem “poderes surpreendentemente amplos” e representa o abuso de poder judicial disfarçado de legalidade  . Já a BBC falou em “ego gigante e muita coragem” ao enfrentar Elon Musk — soa inspirador, até que lembramos que a ação travou o X no Brasil e rendeu críticas sobre proporcionalidade e censura.
Calma, calma: defender a democracia é coisa séria. Mas transformar uma figura em herói acima da política institucional é perigoso, patético, e, no fim das contas, pode destruir a política mesmo. O colunista Tales Faria sacou isso com clareza: Moraes pode até ter sido decisivo em momentos de crise gravíssima, mas virar mito? “Heróis e mitos são perigosíssimos”.
E os perigos não param aí. Quando um juiz vira mito, a política fica interditada. Quem deveria legislar, fiscalizar e debater livremente começa a achar que tá tudo resolvido, que não precisa mais botar o bloco na rua — porque existe um herói que vai “salvar tudo”. A real é que isso fortalece o arbítrio institucionalizado. A ONG Human Rights Watch e a Repórteres Sem Fronteiras chamaram atenção para os abusos: prisões, censura, decisões sem contraditório sob o manto do inquérito das fake news — tudo isso silencia a política, e corrompe o debate democrático.
A síndrome do herói da vez não é só ferramenta retórica; ela congela a democracia. De Moro a Moraes, passando por símbolos de moralidade, tudo vira show de palanque e mural de selfies. Enquanto isso, as instituições enfraquecem — o Legislativo continua mudo, o Judiciário monopoliza a voz, e a sociedade, confusa, passa a depender do salvador de plantão.
Se queremos uma sociedade melhor, precisamos sair dessa vibe de “herói salvador”. Isso não constrói participação — somente legitima decisões autoritárias como “necessárias”, sagradas. A política verdadeira é feia, esbagaçada, suja — e é urgente trazê-la de volta. Sem hérois, sem mitos. Porque democracia forte não precisa de um salvador. Precisa de nós.
Marco Antônio André, advogado e ativista de Direitos Humanos





Pela primeira vez concordo com o Marco Antonio André.
Quando Juiz vira herói é porque quem deveria legislar esta roubando .
No caso de Moraes é pior, pois ninguém roubou nada , ninguém deu golpe algum, ninguém roubou o povo , apenas estavam se manifestando .
Aqueles que depredaram todos sabemos que eram infiltrados . Moraes só é herói para quem não tem o mínimo de dignidade .
Permita-me uma correção: Moro não caiu em desgraça por meros caprichos de grupos políticos, mas em razão de sua comprovada manipulação do sistema judiciário, amplamente documentada no escândalo da Vaza Jato — leitura que, ao que tudo indica, o missivista não se deu ao trabalho de realizar com a devida profundidade. Caso o tivesse feito, muito provavelmente teria hoje uma visão distinta dos acontecimentos.
Também me chama a atenção o fato de o missivista, embora acuse o Ministro Alexandre de Moraes de autoritarismo, não ter sido capaz de citar um único ato seu que não estivesse amparado pela lei. Mais grave ainda é omitir que todas as decisões do suposto “autoritário” foram corroboradas pelos demais ministros do STF. Estranho, no mínimo.