Se não morássemos em Blumenau

marina_melz_100x100Coluna:

MARINA MELZ
jornalista

 

rua blumenau floriano e xvNão sou de Blumenau. E, talvez por isso, varie entre momentos em que sou absolutamente turista nessa cidade onde vivo há mais de 10 anos com outros em que me pego com discurso absolutamente local – especialmente quando é hora de reclamar. Outro dia, ouvi um turista (sotaque paulista, meo) perguntando para outro “como deve ser morar numa cidade onde o rio faz curva?”.

Talvez, se não morássemos em Blumenau, perceberíamos como é triste que os dois lugares onde a curva do rio fica ainda mais deslumbrante estejam fechados. Pensaríamos em como é ilógico que a Prainha, aliás, esteja fechada há tanto tempo e o blumenauense não faça um escândalo por isso. Imaginaríamos (sem saber que isso realmente acontecia) festivais de música, piqueniques entre amigos, ensaios de maracatu ladeados pelo Itajaí-Açú.

Ou, se chegássemos aqui pela primeira vez, talvez não entendêssemos nem mesmo porque as pessoas preferem se acotovelar na Rua XV de Novembro a atravessar a quadra e andar livremente pela calçada da Beira Rio, onde idosos fazem exercícios das academias ao ar livre e cumprimentam quem passar.

Acho que se eu pisasse hoje em Blumenau pela primeira vez e visse, nas placas das ruas do Centro, os nomes das ruas em alemão, entenderia que a colonização alemã está mais presente nas miudezas e formação cultural do povo do que na caricata imagem de que aqui se anda de traje típico. Não conseguiria imaginar que as florzinhas das calçadas e das janelas já estiveram por várias vezes cobertas de lama.

Se eu estivesse em Blumenau pela primeira vez, jamais imaginaria o potencial criativo e tecnológico que se esconde nos prédios comerciais e nos porões balbúrdicos. Não cogitaria que por trás dos muros das indústrias se escondem jardins de Burle Marx, caldeiras que movem as maiores usinas do Brasil e do mundo.

Talvez eu chegasse esperando olhos azuis, chucrute e bandinhas e visse as minhas expectativas sendo absolutamente superadas por diversidade, hambúrguer e rock. Ao pisar nesta cidade, como iria imaginar que aqui se sonha em ser a Alemanha do passado?

Entre todas as dúvidas, sairia com uma certeza que unifica as opiniões da dupla personalidade que vive em mim: Blumenau pode até estar perto do que quer ser, mas está longe (muito longe) do que pode ser se quiser.

1 Comentário

  1. Goatei, simplismente gostei da forma que o tema foi abordadk!

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