Raimundo Colombo: o carrasco de Blumenau

Luiz Carlos Nemetz

Advogado

 

A cidade de Blumenau está jogada à própria sorte ao longo dos dois mandatos de Raimundo Colombo. Ele é o governador que menos veio aqui, em todos os tempos. E quando vem, só enrola.

É difícil abordar esse tema, sem perder a elegância.

Dispensável repetir os já surrados argumentos da importância da cidade no cenário econômico, geopolítico e eleitoral de Santa Catarina e do Brasil. Fica enfadonho dizer da nossa posição no ranking de arrecadação de impostos; que somos o 3º maior Produto Interno Bruto (conjunto das riquezas da cidade) de Santa Catarina, estando entre os 50 maiores PIBs do Brasil; que somos o 11º município brasileiro com melhores condições para abrir e expandir empresas; que temos uma economia diversificada na indústria têxtil, tecnologia da informação, serviços de saúde e de várias outras matizes de excelência; que somos um polo importante de turismo; que temos novos negócios brotando aos borbotões (somos a décima cidade brasileira com o maior número de startups e fazendo sucesso como é o caso das cervejarias); somos campeões na geração de novos empregos (mesmo em tempos de crise severa); que temos as maiores e melhores Universidades de Santa Catarina; que mantemos um comércio fortíssimo; elevados índices de qualidade de vida; indústria exportadora de ponta; blá, blá, blá…

Em 2016 o estado de Santa Catarina arrecadou R$ 17,3 bilhões, que deveriam ser distribuídos em 2017.  Em 2017 esse número deve chegar perto de R$ 20 bilhões para serem distribuídos em 2018.

De toda essa dinheirama 75% fica com governo estadual. Pouco mais de 3% é dividido entre as prefeituras em valores iguais. O que sobra, cerca de 22%, deve ir para os municípios de acordo com as economias que mais geraram impostos. Sendo assim, 287 municípios devem ficar com dois terços do dinheiro destinado às prefeituras pelo ICMS, calculado pelo Índice de Participação dos Municípios (IPM). O restante fica para as oito cidades com maior economia. Nós entre elas…

Os dados da arrecadação de 2016, projetados para o ano em curso, davam conta que Joinville, no Norte catarinense, liderou a arrecadação, tendo direito a 10% de IPM. Na sequência veio Itajaí (ainda com reflexos das atividades da Petrobras) com 7%, e Blumenau com 4,9%, enquanto Florianópolis deveria receber apenas cerca de 3% de IPM.

Para ficar mais claro: Blumenau recolheu, em 2016, o total de R$ 632.213.730,10 (seiscentos e trinta e dois milhões, duzentos e treze mil, setecentos e trinta reais e dez centavos) de ICMS, conforme a tabela extraída do site da Secretaria do Estado da Fazenda. Em contrapartida à título de IPM recebeu de volta R$ 11.886.589,92 (onze milhões oitocentos e oitenta e oito mil, quinhentos e oitenta e nove reais e noventa e dois centavos). Estarrecedor, não?

Todos os blumenauenses sabem que nossa região nunca morreu de amores por Raimundo Colombo. E que ele nos detesta!

É verdade que nós, na nossa sinceridade germânica, manifestamos nossos sentimentos de forma clara e transparente por ele nas urnas, posto que sempre colheu aqui, verdadeiras sovas eleitorais. É que nós não gostamos de gente incoerente ou dissimulada, que balança a barriga de acordo com os ventos que melhor lhe favoreçam.

Mas sempre fomos cordiais e respeitosos, institucionalmente falando.

Mesmo diante dos arroubos das inexplicáveis e pendulares posturas políticas do governador, como liderar, na qualidade de melhor representante da mais qualificada linhagem genética conservadora do estado,  o apoio “incondicional” a “sua” moribunda “ex-presidenta” Dilma Rousseff. Ainda que desconfiados ao extremo, temos que o cacique estadual tem o sagrado direito de defesa, mesmo dentro da condição do ambiente nauseabundo de investigado como beneficiário de corrupção da operação lava-jato.

Mais dúvida mesmo, intuo que nunca tivemos que nosso o imperador da Coxilha Rica é um governador “ovo” choco…

De outro lado, ele nunca nos respeitou, apesar das tentativas de loas que algumas entidades ainda tentaram esboçar, com os cansativos e nada originais jantares de adesão no Teatro Carlos Gomos, quando das suas vindas apressadas e bissextas aqui para nossa querência amada (para usar um jargão bem próprio do planalto serrano).

O sentimento dele para conosco, vem na expressão da sua dialética, que é retratado pelo conjunto dos seus comportamentos como gestor dirigidos para nossa cidade.

Para não nos alongarmos, vamos pinçar aqui e acolá algumas situações extremamente constrangedoras para o governador em questão.

Infraestrutura: sua excelência esteve por duas vezes no palanque oficial da “sua” “presidenta” assinando ordem de serviço de duplicação da BR-470. Mas não moveu uma palha do seu elevado prestígio político junto ao politburo para fazer a obra andar.  O recapeamento da rodovia Governador Jorge Lacerda segue no ritmo que percebemos, sem nenhuma vergonha ou constrangimento. E o aeroporto Quero-Quero? Nada de voos mais altos… Sobra-nos o consolo do Centro de Convenções, com uma verba irrisória de R$ 15 milhões, que já foi anunciada com os respectivos festejos por nada mais nada menos que três vezes, sem que sequer tenhamos visto um único centavo do “carvão” ou saibamos de onde, quando e como vem a grana.

Segurança: das tidas “capitais” das seis grandes regiões de Santa Catarina, Blumenau é a mais carente de efetivo de segurança pública. Temos a pior proporção de policiais civis e militares por habitante na comparação com Florianópolis, Joinville, Chapecó, Criciúma e Lages. Neste mês foram efetivados 1.000 novos policiais. Sabem quantos foram destinados para Blumenau? 40!

Saúde: não temos hospital regional. Mas nossas estruturas hospitalares atendem mais de 100 municípios, onde somos referência mundial em transplantes de órgãos e outras terapêuticas. No entanto, tivemos que ver o fechamento de 5 Unidades de Terapia Intensiva do Hospital Santo Antônio, por falta de custeio.

Educação: aí tivemos uma grande ajuda do governador. Ganhamos uma escola militar, que veio fechando outra. Elas por elas… E outras 11 unidades escolares, que depois de décadas, vão receber algum remendo.

E se formos perceber, o descaso, a indiferença, a falta de respeito, o abandono não atinge somente Blumenau. Mas todo o médio Vale do Itajaí. Basta perguntarmos para nossos queridos vizinhos o que eles acham deste desgoverno?

Nossas lideranças comunitárias e empresárias, em todas as instâncias, se mantêm num silêncio contemplativo frente a esse cenário. Com exceção de uma ou outra entidade (a ACIB parece que na atual gestão finalmente esboça alguma reação mais forte), todos fazem um silêncio ensurdecedor.

Nossas lideranças políticas, então, nem se fala. Deputados estaduais do baixo-clero sem representatividade alguma. Ausentes, omissos, preguiçosos. Talvez nem sejam. Mas se comportam como sendo. Nossos representantes no Congresso Nacional, transparentes de tão pálidos.

A grande imprensa, em sua grande maioria, com ouvidos moucos e olhar de mercadores (se é que me faço entender).

E assim caminhamos. Como uma generosa e pacifica cidade que sem reclamar ou bater na mesa segue sendo somente uma fonte de arrecadação de recursos que beneficia um governador extremamente generoso com outras regiões.

O Estado toma aqui e dá lá… Coloca a mão no nosso bolso com a mão grande. O lageano vem aqui, coloca o cabresto, veste a bombacha e a espora, e sem precisar usar o mango, impõe só na rédea curta, a marcha para nosso trote. E, tal qual pangarés, seguimos de cabeça baixa. Não vejo a hora da nossa burrice corcovear, sair no pinote e por esse ginete no chão.

4 Comentário

  1. Este “OVO” nunca enganou, a resposta é deixar ele sem mantado em 2018, pois em entrevista já disse que o mantado de senador,que já exerceu, foi decepcionante.

  2. “Não vejo a hora da nossa burrice corcovear, sair no pinote e por esse ginete no chão.”

    O Pelé tinha razão, Nemetz? O que dizer de um povo que vota uma vez no molusco, o porco é apanhado no mensalão, votam nele pela segunda vez e mais duas na sua pupila anta?

    Nestas próximas eleições não votarei em nenhum político já conhecido: será uma lição exemplar para os defenestrados fdp e um solene aviso/alerta aos entrantes.

    Alcino Carrancho

    (O Sábio)

  3. Dr. Nemetz, suas considerações em minha opinião, refletem a triste situação vivida por nosso município diante de um governador falastrão, arrogante e dissimulado. Ainda dentro da linha pessoal, entendo que o auge de suas qualidades negativas, foi o apreço inesperado e inexplicável à detratora dos sonhos da nação, a sua excelência a “Presidenta.” Parabéns, sem tirar nem pôr.

  4. Quando se apóia alguém esse apoio é sempre incondicional.O apoiado atende as condições impostas pela sociedade:respeito aos valores sociais,aos bens jurídicos individuais, à ordem legal estabelecida. Tudo isso é considerado pelo apoiador de boa-fé na política antes de tudo.Preenchidos os requisitos essenciais, o apoio e ponto.Falar-se em condições para apoio é vício.Coisa que a sociedade reprova.Simplesmente.O apoio à presidenta Dilma, do governador do estado à chefe de estado brasileira, significa fidelidade à república, ás instituições.Vergonhosa a postura de quem se refere depreciativamente a autoridade responsável que obedece as regras republicanas e as da democracia.É o que , aqui, o dever da cidadania obriga a observar.No mais, o texto é informativo, certamente bem embasado. Impressiona-no os números apresentados.Relevantes dentro de uma perspectiva nacional.É motivo de orgulho.Pelos números, Blumenau segue adiante pela sabedoria de seus cidadãos, pelo trabalho bem feito.Vai realizando.

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