O legado dos jornalistas jurássicos para Blumenau

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Viviane

Viviane Roussenq

Jornalista

 

 

Colegas jornalistas da velha guarda, chega de saudades como cantava Tom Jobim e vamos encarar nossa existência como profissionais e a não menos valiosa contribuição para a história da imprensa em Blumenau e do estado.

Últimos exemplares da era analógica lançados pela velocidade digital aos novos mecanismos de comunicação, vivemos esta transição do telex ao e-mail. Nosso teclado era o das velhas e boas máquinas de escrever Olivettis, onde produzíamos em laudas o conteúdo do dia. Entre bolinhas de papel e o barulho das teclas vivemos a era das redações barulhentas.

Barulho de vida, de notícia quente que contávamos rápido para o editor e nos lançávamos numa missão que envolvia paixão, persistência e um pouco de sorte para levar ao leitor a melhor informação e o mais importante daqueles tempos: tínhamos um compromisso com o desdobramento da notícia. Aquilo que chamávamos de “suíte.” Ao leitor devíamos este acompanhamento das informações veiculadas. Não tínhamos o estupendo auxílio de computadores e seus efeitos especiais para dar uma cara bacana para as reportagens. Era o diagramador o nosso herói ou bandido quem definia em “paicas” – lembram delas? o layout da edição.

Era o tempo dos “furos”, das grandes reportagens, onde matéria boa era matéria especial assinada.

Tínhamos identidade. O leitor conhecia nosso texto.

No jornalismo das antigas, não tinha conversa. Repórter ia pra rua trazer notícia. Release era trabalhado, checado. Nunca publicado na íntegra. Era o compromisso de levar ao leitor o “outro lado”.

Não serei ingênua. Jamais vivemos a imparcialidade jornalística. Por mais que os tempos fossem de matérias competitivas entre veículos, principalmente na mídia impressa, era a cabeça do editor chefe e alguns poucos de seu staff que decidiam pela publicação ou não de uma informação. Decisão pautada, é claro, em interesses, muitos, os quais quem ia pra rua e tinha fome de notícia nunca quis saber.

Que os novos profissionais de comunicação não entendam este artigo como provocação.

Os tempos digitais ditaram novos caminhos no jornalismo.

Nem tudo ainda está devidamente elaborado pelos próprios jornalistas, pelos professores nas faculdades, pelos grandes pensadores da comunicação. Há um jornalismo de ontem e um de hoje. Vivemos ainda entre dois mundos.
O que nós jornalistas dos tempos jurássicos temos o compromisso de registrar para que não se percam estas memórias de redação, é justamente esta época de um vigor absurdo entre os profissionais e de uma riqueza imensa nos textos elaborados, fruto de intensa leitura.

Os livros influenciaram estilos de escrita, nos auxiliaram a construir cada um sua estrutura textual.

Este artigo é uma homenagem a todos os colegas jornalistas das antigas, que sobreviventes se reinventaram e se mantém na luta. E também àqueles que já não estão entre nós e nos dão saudade. Gostaria de declinar nomes, mas seria injusto para com aqueles que minha sequelada mente não consegue lembrar.

Estas linhas registram o devido respeito ao brilhante trabalho do então jornalismo investigativo. O “furo” era nossa obsessão e a rua, o único caminho para encontrá-lo.

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