Meta de 2016: deixar de seguir não é deixar de amar o outro, mas amar mais a si mesmo

Marina Melz

Jornalista

 

Eu perdi a minha lista de metas para 2016. Quis ser descolada e larguei o papel. Não funcionou, deletei o arquivo e esqueci tudo. Além de fazer exercícios e me alimentar melhor – itens que lideram a enfadonha tarefa de definir objetivos para os próximos 12 meses há uns 10 anos por aqui – lembro só de uma. Um metinha só, coisa pouca para 366 dias. O dia a mais do ano bissexto pareceu uma ironia do destino, para rir da minha falta de objetivos a cumprir.

Mas realizar essa solitária meta foi o que me custou mais caro no ano. Não em cifras, mas em desapego. Algumas horas também, mas isso não foi o mais difícil. Tive que fazer reavaliações constantes e prevejo que em 2017 e em todos os anos em que estiver por esse mundo, terei cada vez mais trabalho para realizar. A ansiedade também precisou ser trabalhada aos poucos, para que eu não me assustasse ou não voltasse atrás – muito embora tenha feito isso algumas vezes.

Não, eu posso não saber o que acabou de acontecer com o seu sobrinho, nem ter visto o vestido do último casamento e me dou até ao luxo de não ter nenhum tipo de informação sobre os seus posicionamentos religiosos, políticos ou ideológicos. Você pode estar na lista de pessoas que eu parei de seguir nas redes sociais. E essa limpa que pode ou não ter te incluído foi a minha maior realização pessoal de 2016.

Parece simples e sem muitos efeitos. Mas não é. Deixar de acompanhar pessoas com opiniões radicais, preconceitos bobos e conteúdos que simplesmente não te interessam despressuriza a rotina, deixa o dia mais leve e evita o acúmulo de pequenas mágoas. Aquelas que são como as poeirinhas que se juntam nos cantinhos da casa, que não saem com vassoura.

Parei de seguir. Simples assim. Abri a lista no celular numa bela tarde qualquer. Era só clicar e argumentar comigo mesma. Essa aqui entende tudo de moda, mas anda opinando sobre futebol. Esse outro é minha paquerinha dos tempos da faculdade que deixou o cérebro em algumas das valetas nas quais caiu de bêbado. Conhecida rica que me faz passar ódio porque trabalha dois dias por ano – e posta uma foto em cada – e tira férias nos outros 300. Influenciadora digital que não consegue formular uma frase sem uma palavra em inglês. Só posta vídeos de gatinhos. Não acrescenta nada. Não faz pensar, nem rir.

Minha vida digital era realmente uma calamidade. O tempo que eu perdia era inversamente proporcional ao conteúdo que eu ganhava: uma informação que me fizesse repensar, uma gargalhada que eu pudesse dar, algo que me emocionasse ou um momento realmente importante dividido.

Às vezes demoro mais pra receber uma ou outra notícia, é verdade. Mas os minutos que me separam de fatos relevantes me doem infinitamente menos do que ser metralhada todos os dias, o dia todo, por quem insiste em emitir opinião sobre tudo, compartilhar cada momento mundano como um furo de reportagem digno de BBC.

Às vezes sou pega no flagra também. “Você viu aquilo que eu postei?”. Sorriso amarelo. “Não vi, menina!”. A pessoa me conta e eu fico verdadeiramente feliz, verdadeiramente triste, verdadeiramente qualquer coisa. Não é reprise. É inédito. A vida real era inédita antes das redes sociais. Não era louco? Não era lindo?

Essa faxina também me trouxe a possibilidade de amar ainda mais posicionamentos inteligentes, argumentados. Deixei de seguir muitos com as mesmas opiniões que as minhas e isso foi fundamental. Porque aprendi que mesmo consonantes com o que eu penso, quem levanta bandeira política, ideológica ou religiosa desrespeitosamente e sem ouvir o outro lado não me acrescenta nada.

No fim das contas é isso. Somar, acrescentar, emocionar, fazer pensar, tocar, trocar. É pra isso que eu uso as minhas redes sociais. E se você também está sentindo que a rotina anda pesada demais e com muita informação desnecessária, eu sugiro uma faxina em quem você segue.

Porque seguir é dedicar o seu tempo ao que essa pessoa pensa e posta. E deixar de desperdiçar preciosos segundos com conteúdo que não vale a pena faz bem pra pele, pro cabelo, pra mente e até emagrece. Tá, não. Mas os outros itens da minha lista nem eram tão importantes assim.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*