Ensaio para o trânsito da região central de Blumenau (As idas e vindas, os fatos e as coisas)

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ivan nonna

Ivan Daudt

Empresário, motorista e cidadão

 

Esta semana tive o privilégio de participar de um dos maiores eventos coletivos promovidos na cidade: o espetáculo do estacionamento a céu aberto na região central de Blumenau!

Algo trivial como buscar um filho a uma distância não maior que 7km, e que normalmente pode ser percorrido em pouco mais de 15 min, converteu-se em um suplício de mais de 2h! Isso brinda o agraciado com tempo suficiente para pensar na situação e na total inaptidão de uma legião de personagens aos quais outrora confiamos a autoridade para administrar a coisa pública.

Mais que rápido, nossos homens públicos correm para alardear a distribuição de agentes de trânsito em pontos críticos para os horários de pico e a mobilização de estruturas internas para atuação sobre malha viária, como quem recomenda analgésicos para controle dos sintomas de uma enfermidade, ao invés atacar a raiz do problema.

Pouco me faz crer que toda essa gente faça muito mais do que minimizar o problema que está posto, ao custo da paciência, tempo e combustível da população. Os mesmos automóveis estarão lá na companhia dos mesmos cruzamentos, semáforos e entraves de todo santo dia!

Dado do ocorrido, optei por não ficar reclamando e fui em busca de um ensaio para o trânsito que redigi em 2012, para dividir com os amigos e leitores do Informe Blumenau uma ideia para simplificar o trânsito na região central da cidade. São as bases de uma ideia que pode (e deve) receber contribuições de outros interessados para o bem de todos nós!

Primeiro as Boas Notícias!

Boas notícias são sempre bem-vindas, portanto vamos começar por elas: não é necessário construir nada para resolver o problema! A estrutura necessária para implantação da ideia já está no lugar. Isso elimina boa parte das desculpas orçamentárias para justificar o não-fazer, portanto vamos a ideia!

A avenida 7 de Setembro é ampla, com 4 pistas de rolagem. Por sua vez a Castelo Branco (Beira Rio) somada com a XV de Novembro fornecem outras 4, no sentido inverso. Elas são o núcleo do conjunto.

Assim como outras tantas coisas neste país, não precisamos mais do mesmo, mas sim usar melhor o que já temos! As alterações, portanto, estão baseadas em regulação e maneira de usar a estrutura atual.

Trocando as Lentes

Todos conhecemos os entraves do centro e é fácil fazer uma lista de problemas. Mas é preciso mudar a perspectiva da questão para encontrarmos a solução.

Ao invés de encarar a região central como uma região que exige controle de quem chega por ali, deveríamos adotar uma perspectiva de retirar quem trafega por lá com mais eficiência (e segurança, lógico).

O centro de Blumenau tem uma característica comercial. As pessoas fazem o que precisam e saem. Só que no modelo atual quem está tentando sair acaba travando quem quer chegar e vice-versa. Por isso, a meu ver, bastaria facilitar a troca de lugares que o restante aconteceria ao natural.

Se ignorarmos o atual modelo de funcionamento da malha viária e encararmos o mapa com outros olhos, encontraremos as condições para implantação do conceito.

As Ruas Nereu Ramos e Alameda Rio Branco faziam parte do antigo ensaio e já tiveram suas alterações executadas, mas sozinhas não são condição o suficiente para resolver o problema. A mudança deve ser levada as outras ruas que permitam dar eficiência ao conjunto total de vias da região central da cidade, a começar pelas ruas República Argentina e Itajaí, partes da Castelo Branco e todas as transversais entre a XV de Novembro e 7 de Setembro.

Boas vindas à rua República Argentina e rua Itajaí!

As ruas República Argentina e Itajaí são importantes vias de entrada ou saída pelo centro da cidade. São ruas de mão dupla, com uma série de cruzamentos e interrupções no fluxo de veículos. Ambas deveriam ser convertidas em vias de mão única (assim como a Nereu e a Alameda agora são), liberando a totalidade de suas pistas para o propósito de entrar ou sair do centro da cidade.

A Rep. Argentina deveria ser utilizada como via de entrada para região central da cidade, levando o condutor diretamente ao centro pela ponte Adolfo Konder (do castelinho) com 2 pistas, ou então pela ponte de ferro (que teria sua mão invertida) com mais 1 pista chegando na Martin Luther. Seus semáforos e cruzamentos deveriam ser retirados e dar lugar a controladores de velocidade ao longo da via.

A Rua Itajaí por sua vez seria a via de saída pelo centro da cidade, com 2 vias ininterruptas até o Sesi aonde se liga com a estadual. Não antevejo alterações ali a não ser a mão única.

A ponte dos arcos seria o retorno para condutores que queiram atravessar de um lado ao outro do rio, mas com suas pistas invertidas. O que entra na ponte não deve cruzar com aquele que sai, evitando o bloqueio da pista (e acidentes). Um recuo de pista na saída é o ideal, especialmente pelo problema de falta da visibilidade pela estrutura da ponte a direita do condutor.

Mas e o centro?

O núcleo de ruas do centro precisaria ser ajustado para que possa receber e entregar os veículos que chegam ou saem da cidade em velocidade compatível com estas avenidas.

As alterações necessárias envolvem a adoção de regras e princípios para boa fluidez do trânsito em toda na região central, como a proibição de cruzar sobre as pistas da Av 7 de Setembro em qualquer ponto e o retorno sempre a esquerda. Isso permitiria a retirada de semáforos.

Sem o semáforo, numa avenida de fluxo constante, quem pretende cruzar para a direita deve voltar 2 ou até 3 quadras em qualquer situação, para que a troca de pista ocorra de forma suave até o ponto de saída no lado oposto. O inverso também é verdadeiro.

Como exemplo, quem pretende entrar no shopping Neumarkt vindo da XV de Novembro deveria ter seu ponto de entrada na Av 7 de Setembro pela R. Paulo Zimmermann e não mais na Namy Deeke como ocorre hoje. Com mais espaço, o condutor pode trocar de pista sem pressa, não cortando a frente de outros veículos.

Tartarugas e tachões delimitariam a pista da esquerda por 20 ou 30 metros, a cada rua de entrada, para que ninguém cruze a avenida logo de saída. A barreira física ajuda a conter a ânsia dos mais afobados.

São princípios adotados em grandes cidades e que já se provaram eficientes dar maior fluidez ao trânsito.

A 7 de Setembro já conta com uma interligação com a Rua Itajaí com 2 faixas pelo acesso novo. Com a retirada dos canteiros que dividem o fluxo na Itajaí, elas se interligariam naturalmente.

Neste novo arranjo, a R Prof José Ferreira da Silva, que é usada para entrada na Namy Deeke, deveria ser fechada. O retorno a esquerda naquele ponto seria mais adiante, contornando a prefeitura.

A saída do contorno deveria ter preferência sobre quem chega da São Paulo para seguir para a Paulo Zimmermann e então chegar na 7 de Setembro. Uma rotatória seria o ideal no cruzamento entre as ruas São Paulo, Castelo Branco e Paulo Zimmermann.

Seria interessante repensar também a direção da maioria da ruas entre a XV e a 7 de Setembro para oferecerem retornos “a esquerda” o suficiente para o conjunto. Seriam complementos para a proposta.

Seguindo com alterações assim, com acessos e retornos sempre à esquerda e não permitindo o cruzamento de pistas teríamos ganhos significativos de eficiência no trânsito da região central.

O esquema básico de circulação e as principais vias envolvidas estão apresentadas no seguinte mapa:

mapa ivan

E os pedestres, escolas e crianças?

Nada substitui a educação no trânsito, mas concordo que é importante implantar mecanismos para proteção dos pedestres e, especialmente, crianças. As travessias elevadas adotadas na Alameda são uma ótima ideia para a 7 de Setembro em frente a escolas e nos pontos de fluxo intenso de pessoas. É um recado claro de que há consequências para o condutor que anda em alta velocidade…

Em horários de entrada e saída de escolas os agentes de trânsito já atuam para garantir a segurança das crianças. Esta rotina deve ser mantida. Ela é salutar para todos.

Alguns cedem para que todos ganhem

Haverão os descontentes e que alegarão os muitos km que terão de fazer para chegar a seus destinos como um prejuízo, dada a implementação da lógica dos anéis de circulação na região central da cidade.

Aqueles que saem do centro para região da prainha são um bom exemplo. Partindo da 7 de Setembro, sairiam pela R. Itajaí, retornariam na ponte dos arcos, mais um trecho da Rep. Argentina e chegariam ao acesso, num trajeto de uns 10min. Vindo pela Alameda e Castelo Branco para cruzar a ponte como é hoje, o fazem em menos tempo que isso? Certamente não em horários de grande fluxo.

Não podemos esquecer que estamos cedendo certas facilidades, disponíveis em certos horários, por ganhos permanentes a todos e em qualquer momento do dia. Assim fazem as grandes cidades. Assim deve fazer Blumenau.

É o que precisa ser feito em uma cidade que quer ir adiante, preservando elementos importantes da qualidade de vida de sua população.

Quem quiser conferir o ensaio original pode fazê-lo em http://bit.ly/2bashyD

Bom trânsito a todos!

(Com os votos de um motorista eventual e ciclista habitual.)

3 Comentário

  1. Boas ideias a serem estudadas, basta vontade do poder público .

  2. Quase isso, tem mais coisas que deve. ser feitas como transformar a rua 7 toda em mão única, inverte a rua são paulo e fazer binário na garcia/alameda… tem mais coisas… mas é isso mesmo… tem soluções de curto, médio e longo prazo e todas deve. ser realizadas…

  3. Faltou algumas informações:
    Total de veiculo em Blumenau 251.011 – 1,22 pessoa por veiculo

    Veículos por tipo
    AUTOMOVEL 161.232
    CAMINHONETE 11.934
    CAMIONETA 14.568
    MOTOCICLETA 36.667
    MOTONETA 9.075
    Total 233.476 – 1,31 pessoa por veículo

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