Conviver na diversidade

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Aroldo Bernhardt

Professor

 

Volta e meia alguém me faz a gentileza de publicar um artigo de minha autoria e, nesse particular sou muito grato ao “Informe Blumenau” que educadamente sempre me acolhe.

Quando um texto é publicado, obviamente nem todos concordam com o teor e se manifestam. O que é muito bom.

Outro dia um dos meus escritos provocou a opinião de um escriba contumaz, de pena ácida, corrosiva e forte. Irado, ele me imputou ingenuidade ou ignorância. Em outro espaço, o mesmo cidadão chegou a afirmar que certas ideias (minhas) estariam “envenenando” o meio acadêmico e aquela peroração me fez recordar uma passagem muito interessante de um “desenho animado” chamado “O Mundo dos Insetos”, fato que quero compartilhar.

Havia uma colônia de formigas sistematicamente exploradas por um bando de gafanhotos. O gafanhoto líder se chamava Hopper, profundo conhecedor das manhas e das artimanhas da chefia, da liderança e também da opressão. Um belo dia, ele foi confrontado pelas ideias revolucionárias do Flicker, inseto criativo e inconformado com o estado das coisas (formigas subjugadas por gafanhotos). Sem argumentos, Hopper declarou peremptoriamente: “ideias são coisas muito perigosas”.

Ideias não são perigosas, não são venenosas. Ideias fazem o mundo avançar, fazem viver e para aqueles que exercitam a tolerância e a compreensão, as ideias fazem conviver.

As ideias podem balançar o “establishment” como aconteceu com a teoria heliocêntrica de Copérnico ou com as teorias de Einstein que mudaram a física clássica, com repercussões em todo o conhecimento humano. Na área das ciências humanas e sociais há hoje uma efervescência crescente. A influência da nova física se faz presente, e o cientificismo exacerbado na lógica e na razão objetiva começa a dar espaço ao intuitivo, refletindo a mudança.

Há uma constante na história da humanidade – a linguagem da tensão. Eric Voegelin a chamava de tensão existencial e Platão a entendia como uma “metaxi”. Eles referiam-se à condição humana de “estar – no – meio”, de “estar – entre” dois polos, duas tendências. Entre a vida e a morte; perfeição e imperfeição; ordem e desordem; esquerda e direita; enfim, entre ideias divergentes, porém complementares. Se separarmos esses pares de símbolos, se desconsiderarmos (os filósofos dizem: “se hipostasiarmos”) os polos de tensão, estaremos deformando nossas humanidades. Até por isso, esquerda e direita não é uma falsa dicotomia, é a realidade histórica.

Por outro lado, achar que aquele que se alinha à esquerda é simplesmente marxista-leninista, caracteriza um reducionismo que aliena porque, no que tange ao tema, existem muitas outras contribuições que ajudaram a compor o pensamento esquerdista (e o da direita, também).

Nessa linha, o socialismo evoluiu para o que vem sendo pejorativamente chamado de pragmático, porque entende que o socialismo não deve ser confundido com estatização, mas como socialização da política; porque defende a construção de formas de propriedade privada e de propriedade estatal, de cooperativas e, sobretudo, de estabelecer mecanismos de regulação que possam direcionar o crescimento da economia para o benefício da maioria. Trata-se de uma abordagem que se preocupa com o meio ambiente de forma estratégica, para o desenvolvimento em harmonia com a natureza. Que se preocupa com a socialização do conhecimento, que entende que a comunicação constitui um bem público e que o socialismo deve garantir a liberdade de imprensa, com a adoção de mecanismos combinados de comunicação pública, privada e comunitária. Acredita na diversidade étnico-religiosa, quer contribuir para a paz mundial, que passa pela paz individual e na família, paz que viabilize o diálogo, que incentiva o debate em torno das ideias sem combater o pensador.

Enfim, não se trata de ingenuidade ou ignorância, a ideia é não temer as ideias, nem execrar quem pensa tampouco reprimir quem se expressa. Ao contrário é preciso estimular o debate, em qualquer esfera.

Ideias não envenenam, ideias libertam.

1 Comentário

  1. Conviver com a diversidade de pensamentos e fácil….o difícil é conviver com pessoas que defendem ladrões. ..

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