As nossas filhas merecem mais – Maternidade

sabrina_100Coluna: MATERNIDADE

por SABRINA HOFFMANN
jornalista e mãe

A minha madrinha tem dois filhos homens. Como trabalha fora desde que ambos eram ainda pequenos, instituiu que as tarefas domésticas seriam igualmente distribuídas. Era comum ela sair de manhã e deixar um bilhete cheio de recomendações, com um “eu te amo” no final. “Assim tenho certeza que eles farão tudo o que eu pedi”, dizia, rindo. E se tornou algo natural os meninos lavarem louça, fazerem almoço, lavarem banheiros. Em suma, ótimos partidos (viu, Jaque?).

Essa lembrança me veio à tona assim que botei os olhos na notícia que repercutiu na semana passada: a abertura de uma filial paulista da Escola de Princesas. Caso você não tenha visto nada a respeito, eu explico: é, basicamente, uma escola de boas maneiras para meninas, que ensina elas a “se comportarem”. Aprendem a arrumar a cama, se maquiar e, claro, diversas atividades pra deixar a casa em dia e o marido feliz. Além disso, rola a ideia de que elas devem saber pedir para os maridos aquilo que precisam. De fato, uma ideia super útil. Pro século 16, no caso.

Nunca achei errada a ideia da mulher assumir os cuidados da casa se essa for uma escolha dela, ou do casal. Mas em pleno 2016, o sucesso de uma “instituição” que enfia goela abaixo de meninas a partir dos 3 anos os comportamentos que a tornarão uma esposa submissa não me desce.

E, assim como os nossos filhos, eu creio que as nossas meninas merecem mais. Elas podem – e devem – ser tudo aquilo que desejarem. O que eu desejo para o futuro da minha filha, em primeiro lugar é que ela seja feliz consigo mesma. Que tenha liberdade de escolha, seja respeitada, possa estudar, escolher uma profissão e assumir o posto que desejar – inclusive o de dona de casa, se essa for a sua vontade.

Olho todos os dias para exemplos de amigas e mães que lutaram por igualdade no mercado de trabalho ou deram um tempo na carreira para se dedicar aos filhos. E me sinto muito bem representada por cada uma delas. Não porque “se comportam bem”, mas porque tomaram o rumo da própria vida. Muitas são mães de meninos e cumprem um papel fundamental, os ensinando a respeitar as meninas.

maternidade-meridaNo hall de princesas, sou muito mais a Merida, de Valente, ou mesmo a Anna, de Frozen. Porque ambas chegam para mostrar que elas podem ser muito mais do que alguém à espera do príncipe encantado. Enquanto a primeira luta pela própria liberdade em um embate medieval, a segunda inicia a jornada acreditando nos contos de fadas e percebendo que o amor tem várias faces: e que o de amigos e família podem ser o suficiente pra uma menina. Acima de tudo, ambas se descobrem felizes sem a dependência de um par romântico.

Se um dia a minha filha decidir ser dona de casa e cuidar dos filhos enquanto o marido trabalha fora, serei a primeira a apoiá-la. Desde que esse destino tenha sido escolha dela. Nossas meninas merecem e podem muito mais do que um papel secundário, de dependência e cheio de regras que tolhem suas personalidades.

Que elas tenham a liberdade e o nosso apoio para trilharem seu próprio caminho. Que sejam fortes, independentes e livres para serem tudo o que quiserem. Que possam estudar, definir seus futuros, sair à noite sem medo.

E que saibam que isso não as tirará do trono.

Eu quero uma filha princesa. Mas muito mais Anna do que Bela Adormecida. Muito mais Merida do que Cinderela. Eu quero que as nossas filhas sejam livres, leves, soltas. E você?

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